[Por Gizele Martins] “Fui ao médico e quando eu cheguei os vizinhos falaram que a minha casa estava no chão. Não tinha mais nada, ainda estou com depressão. A Guarda Municipal não deixou eu pegar nem os meus remédios, eu recém operada, diabética e com 60 anos. Mas foi com o meu voto que coloquei o Prefeito lá, mas ele me colocou na rua”, este é o depoimento de Marisa do Divino, moradora há mais de 20 anos da Vila Autódromo, comunidade hoje espremida pelas grandes obras do Parque Olímpico, no Rio de Janeiro.
Esta não é a realidade só de Marisa que perdeu a casa há três meses e sobrevive hoje do apoio dos vizinhos, são inúmeros outros na mesma situação no Rio. São mais de 100 mil moradores que já foram removidos ou que estão sofrendo o processo das remoções em diferentes favelas. Desde 2010, a Prefeitura do Rio está tirando do mapa inúmeras delas. A retirada delas de determinados locais é por conta da especulação imobiliária, para dar lugar a vias expressas e por causa das obras que estão sendo preparadas por toda a cidade por causa das Olimpíadas.
Para quem acompanha a luta da Vila Autódromo, sabe que ela hoje está cercada por grandes prédios. São poucas casas que restaram ali, aproximadamente 100. São poucas famílias sem qualquer escolha, mas ainda resistindo. Janne Nascimento, aluna do Curso de Comunicação Popular do NPC, é uma das lutadoras daquele espaço. Ela passou anos dedicando a sua vida nesta briga contra a remoção, mas desde o ano passado que ela teve de sair da Vila Autódromo. “Fui obrigada a sair porque houve um decreto. Além disso, uma das minhas filhas estava doente, a outra largou o emprego porque ficou com medo dela chegar do trabalho e eu estar sozinha sem casa. Minhas filhas estão deprimidas, eu estou deprimida”, disse.
Com relação às ações dos governantes, aos atuais interesses políticos de cada um deles, assim como a Dona Marisa, Janne diz que tudo o que era seu foi retirado e que são poucos os políticos que ainda pode contar. “Eles são laranjas, fazem do povo massa de manobra, eles não cumprem os seus deveres, eles obedecem a ordem daqueles que bancaram a campanha deles. Eles dizem que a gente tem que ficar afastado dali porque somos sujeira. Estes eventos estão sendo feitos com apoio de empresários, empreiteiras”, complementa.
De acordo com Sandra Regina, outra moradora da comunidade, mãe de dois filhos, há anos que a Prefeitura tenta removê-los, mas depois que foi realizado o sorteio para a Copa e para os jogos Olímpicos, eles decidiram colocar isso em prática. “Depois de tudo o que a gente passou e vem sofrendo, uns moradores estão com estresse, outros doentes tomando medicamentos, tudo isso para aguentar o transtorno do que está acontecendo com as nossas próprias casas. Eles fazem promessas mirabolantes, mas a gente sabe que nada é de graça, até o apartamento que eles dizem oferecer para a gente, vai ser pago por nós”, fala.
Eram mais de 500 famílias naquele local, hoje existe um pouco mais de 100. Todo o processo de remoção começou a piorar em fevereiro de 2014. Algumas famílias foram reassentadas, outras receberam indenizações, algumas continuam sem nada. Desde o ano passado que inúmeras atividades estão sendo realizados pelos moradores e movimentos sociais na Vila Autódromo para que ela continue ocupada, viva e resistindo. Lembrando que esta é a comunidade que venceu o prêmio internacional de urbanismo. O projeto premiado internacionalmente, mas que nunca foi implantado, já que o único interesse da Prefeitura do Rio é o de tirar os moradores dali. A ideia é que a favela desapareça daquele local que não é lugar de risco, mas sim de rico.
A Vila Autódromo virou um símbolo da luta contras as remoções no Rio de Janeiro. Ela vai continuar resistindo!