A poeta Maria Nilda, também conhecida como Dinha entre os movimentos sociais e culturais atuantes no território conhecido como Fundão do Ipiranga, criou a campanha ‘Conexões Contra o Covid’, iniciativa focada em criar uma solução que democratiza o acesso à internet para 500 famílias que foram afetadas pela falta de entretenimento e informação durante a pandemia de coronavírus.

Criar uma infraestrutura de internet livre, comunitária e de qualidade para atender 500 famílias que moram na região do Fundão do Ipiranga, zona sul de São Paulo. Essa é a ação solidária colocada em prática pela moradora Maria Nilda, mais conhecida como Dinha entre os movimentos culturais e sociais do território. Ela lançou nas redes sociais o movimento ‘Conexões Contra o Covid’, que visa arrecadar fundos para viabilizar o projeto.

As famílias que irão usufruir do aceso à internet residem nos arredores do Parque Bristol e Jardim São Savério, ambos os bairros fazem parte da região conhecida como Fundão do Ipiranga.  O objetivo é impactar a vida de núcleos familiares que tiveram o acesso à informação no cotidiano afetado devido à pandemia de coronavírus

A poeta Dinha acredita que a internet pode ajudar as famílias a passar por esse momento de isolamento, e observou isso quando ficou sem acesso à rede dentro de casa, com poucas escolhas para distração e trabalho. 

“Me senti sozinha e violentada, sem direito à comunicação, sem poder trabalhar, sem acesso a lazer, sem saída. Então eu recebi ajuda de umas amigas que sabiam da minha dificuldade. Recebi 150 reais e paguei as contas pendentes”, relata a moradora, descrevendo a sua situação ao ficar por alguns dias ser internet em casa.

Com poucos recursos para se distrair, a professora focou seu tempo em ler livros e planejar como poderia mudar essa situação, não só a sua, mas dos moradores do território onde mora. “Li, escrevi e planejei a campanha”, relembra.

Dinha iniciou uma mobilização no bairro para colocar o projeto ‘SP – Conexões Contra o Covid’ em prática. A iniciativa vai atender 500 famílias que vivem em habitações precárias à beira do córrego São Francisco, que faz a divisão de dois bairros: Parque Bristol e Jardim São Savério. Com os recursos arrecadados, será construído um “espaço virtual”, onde a senha do wifi será a mesma e todos os moradores do bairro poderão acessar.  Até o momento, a iniciativa já arrecadou 16% do valor necessário para montar a infraestrutura de internet comunitária.

Foto: Sandrinha Alberti

“O acesso à internet pode salvar vidas”

“Nesse momento, além de informar, formar, comunicar, proporcionar lazer e acesso à cultura, o acesso à internet pode salvar vidas, pois permite que se tenha algo pra fazer, mesmo no reduzido espaço dos barracos, sabe?”, afirma a poeta, enfatizando suas observações, que levaram a pensar na criação dessa rede aberta de internet.

Ela lembra que essa ideia não surgiu com a pandemia e que já era uma prática comum em sua vida no bairro. “Durante anos eu tive uma rede de internet livre em casa, o nome da minha rede era ‘Libere seu wi-fi’ e não tinha senha. A vizinhança meio que se amontoava no meu portão pra aproveitar o sinal”.

Segundo a moradora, essa época foi marcante porque a fez enxergar a realidade, se referindo à falta de acesso de internet de qualidade no seu bairro. “Depois eu tive que mudar de casa. Hoje eu uso a internet dos meus parentes que moram perto de mim. Não tenho uma rede pra deixar liberado o acesso”.

Em relação aos moradores que já tem internet, a poeta conta que fará melhorias na sua rede com recursos da campanha, deixando-os isentos de pagar mensalidades. Junto com Nilda, o projeto tem parceria com os coletivos Posse Poder e Revolução, Edições Me Parió Revolução, União de moradores do Parque Bristol e Jardim São Savério.

“Nós somos basicamente cerceados ao aprisionamento em canais abertos”

Conversamos o morador Roberto Oliveira, 35, que reside no Jardim São Savério e divide a internet com seu vizinho, pagando todo mês R$ 30 reais. Ele expressa seu descontentamento com o uso da rede, porque como ele mesmo diz: “É péssima. Sempre cai”.

Para Oliveira, essas alternativas podem expandir o horizonte de informação dos moradores do bairro. “Nós somos basicamente cerceados ao aprisionamento em canais abertos, onde os conteúdos basicamente não agregam nada para nós. Penso que com a alternativa da inclusão, nossos caminhos teriam muito mais oportunidades. Tanto educacional profissional e de lazer”, conta o morador.

Diante da possibilidade de ter uma internet de qualidade, com o apoio do projeto, Oliveira imagina como usufruiria desses recursos. “Se fosse de qualidade, creio que será um recurso de grande potencial nos quesitos de interação e comunicação. Poderemos nos expressar mais, fazer visitas virtuais a museus, ver filmes, documentários, “escolha” de conteúdos, envio de currículos, vendas virtuais, são exemplos”, descreve ele, afirmando que hoje não é possível fazer isso com a rua rede.

Com os trinta reais que economizaria com o dinheiro da sua internet de má qualidade, o morador relata que direcionaria para suas construções pessoais. “É um valor que poderia ser convertido em material de construção, para bater a laje de casa”.