Por Douglas Baptista, Gizele Martins e Renata Souza
Foto: Fabio Evangelista (Café)
Manifestação na Maré contra violência policial
Em meio a um sentimento de revolta e dor, cerca de 200 moradores do Complexo da Maré saíram às ruas em uma manifestação contra a política de extermínio imposta pelo Estado nas favelas do Rio.
O ato simbólico do dia 21 de abril, feriado de Tiradentes, foi organizado por familiares e amigos do estudante Felipe Correia dos Santos, de 17 anos. O jovem foi assassinado por policiais no dia 14 de abril com um tiro na cabeça.
A passeata abraçou a favela da Baixa do Sapateiro, onde a vítima cultivou seus laços de amizade e manteve suas relações sociais. Durante a manifestação, que fechou a pista de subida da Avenida Brasil, o pedido por justiça foi entoado pelos moradores ao som de uma marcha fúnebre tocado pelo Bloco Se Benze que Dá, da Maré. De acordo com o comandante do 22º BPM (Maré), Rogério Seixas, que acompanhou pessoalmente o ato, o jovem seria bandido. Tal versão é enfaticamente negada pelos moradores.
Nem mesmo a chuva fria que caiu durante a manifestação fez com que os jovens se calassem ou perdessem a vontade de provar para o mundo de que se trata de mais um caso de inocente executado pela polícia. Eles estavam vestidos com camisetas brancas com a foto de Felipe, e carregavam cartazes e cruzes que simbolizavam a dor dos familiares e amigos da vítima.
Para Jonatas Bezerra de Aguiar, amigo da vítima, o importante agora é “limpar” a imagem que fizeram de Felipe. “Ele era como um irmão para mim. A gente já tinha até se alistado no quartel juntos. E agora, eu quero só justiça. Nós queremos limpar o nome dele, ele não era bandido”.
De acordo com Patrícia Rodrigues, irmã de Felipe, a polícia deve mudar a forma de entrar nas favelas. “É muito triste. A polícia tem que parar de entrar na favela dando tiro na gente. Dessa forma ela se transforma em um verdadeiro bandido”. A mãe de Felipe, Gilmara Francisco dos Santos, pretende lutar para provar que seu filho era apenas um estudante. “Eu estou revoltada. Além de matarem o meu filho, ainda falam que ele e bandido. Vou lutar por justiça”, afirmou emocionada.
Para Luiz Antônio de Oliveira, diretor do Museu da Maré, a manifestação representa um ato de resistência à política de segurança que criminaliza os moradores de favelas. Para ele, o despreparo da polícia coloca em risco a vida dos moradores. “A passeata é um movimento de resistência e de mobilização que tem que ser contínuo. Estamos com uma política absurdamente burra que não valoriza o ser humano. A violência não se combate matando as pessoas.”
Este ato não foi a única manifestação feita em favor da inocência de Felipe. No dia de sua morte, moradores fecharam as principais vias de tráfego próximas ao Complexo da Maré. Já no dia 15/4, mais de 300 pessoas que acompanharam o sepultamento de Felipe no Cemitério do Caju exibiram cartazes e, após o enterro, fecharam por alguns minutos a Avenida Brasil. Todas essas iniciativas foram violentamente reprimidas pela polícia.