Um dos maiores canalhas da raça humana está morto. Foi cedo. Augusto Pinochet deveria ter sobrevivido para pagar por seus crimes. Como disse Hebe Bonafini: “Não deveria ter morrido na cama, mas numa cela”.  

É terrível que não tenhamos conseguido fazer isso acontecer. Mais terrível que isso, é a cara-de-pau da grande mídia em relação ao assunto. Acontece que 9 entre 10 comentaristas, articulistas e outros ditos “especialistas” mal conseguem disfarçar sua admiração. Não é que elogiem a obra do ditador sanguinário, responsável pela morte de cerca de 3 mil pessoas e tortura de outras dezenas de milhares. Não. Eles fazem pior. Conseguem separar o terror político de Pinochet, de sua “obra econômica”. Afinal, o carrasco chileno implantou o neoliberalismo antes de todos os governos latino-americanos. É certo que fez coisas feias ao usar a repressão e a censura, dizem eles. Mas acertou ao “modernizar” e “liberalizar” a economia. A prova, afirmam, é que todos os governos “democráticos” depois de Pinochet mantiveram seu modelo econômico.

É verdade. E isso está acontecendo na grande maioria dos outros países, que saíram de ditaduras. Também neles, os governos que sucederam ditadores carrascos mantiveram a receita econômica
neoliberal. Nem por isso, há menos ditadura. E violência, mortes… e até tortura. 

A diferença é que a ditadura agora é a da grande mídia. Primeiro vieram a violência bruta, a tortura e as prisões. Depois foi a vez do desemprego, terceirizações e cooptação de pelegos reciclados. Medidas que enfraqueceram sindicatos e os meios de defesa dos trabalhadores,
como as greves. Finalmente, chegou a vez da disputa das consciências.

São os jornais, revistas, os telejornais, e até novelas e filmes martelando dia e noite. Afirmando a impossibilidade de haver alternativas. Fora do neoliberalismo, não existe mais nada, dizem
eles.

A verdade é que a ditadura de Pinochet e a ditadura do FMI, com seus fiéis representantes na grande maioria dos governos, têm tudo a ver.
Ambos continuam fazendo vítimas em larga escala. Principalmente, entre os pobres e não-brancos. Conseguiram combinar a violência das delegacias e quartéis com a violência do desemprego, da fome e da desigualdade social. E se as mortes e torturas continuam para os mais
pobres, é porque eles perderam a batalha pela sobrevivência. Ficaram pelo caminho porque não são capazes de se empregar e de consumir. É a lei da selva.

Pinochet se foi. Mas, hoje, há um pouco de Pinochet em muitos dos cidadãos comuns. E isto é obra da grande mídia.
                                                                                  (Por Sérgio Domingues) 

(leia em nossa página, o último discurso de Salvador Allende:( www.piratininga.org.br)