( Claudia Santiago )
A programação foi extensa. De 18 a 24 de março, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) cedeu o palco de seu principal teatro e outras dependências para a Semana Nacional de Cultura Brasileira e Reforma Agrária. Um evento idealizado e organizado pelo MST e apoiado pela Uerj, Funarj (Fundação de Artes do Rio de Janeiro) e Faperj (Fundação de Amparo à pesquisa do Rio de Janeiro). Outros locais da cidade, ou fora dela, como foi o caso de Niterói, também abrigaram atividades da Semana de Cultura. Debates, exposições e mostras de vídeo rolaram pela UFRJ, UFF, Museu da Imagem e do Som e Cinelândia (Cinema Odeon).
Quem foi à Uerj, no bairro do Maracanã, em um dos dias do evento, sentiu-se tentando a voltar nos outros dias. Foi o meu caso. Apareci por lá na quinta. Pronto, minha semana foi para o espaço e tive de enquadrar minha agenda. Voltei na sexta, no sábado e no domingo.
Queria engolir com os olhos, os ouvidos, e até com o cérebro, as bandeiras, as músicas de Zé Pinto, os hinos, o teatro, a poesia, as homenagens aos que lutaram por um Brasil diferente, os CDs, os livros, o ritual da produção do biju desde a hora em que a mandioca é descascada, as compostas de doces, os queijos, os sabonetes, os tapetes e tantas outras coisas que estão sendo produzidas nos assentamentos do MST em todo o país.
Apolônio de Carvalho, 90 anos, foi um dos homenageados. Transmitiu sua mensagem com a clareza e simplicidade que sempre foram sua marca: “o socialismo é a forma suprema de democracia, dos direitos humanos e da liberdade de viver livre da exploração do homem pelo homem”.
Numa platéia repleta de mulheres e homens com calos nas mãos frutos de sua atividade agrícola, eu vi muitas mulheres e homens calejados pela luta, chorar.
Acabei ficando até o show, no domingo à noite, que artistas da cidade fizeram nos Arcos da Lapa, em homenagem ao MST. Segundo Generosa, militante do Movimento, “a mobilização dos artistas foi motivada pela decisão do governador Anthony Garotinho de cancelar a infra-estrutura que colocara à disposição do MST para o show “Cio da Terra”, em homenagem a Villa-Lobos, que encerraria da Semana Nacional de Cultura Brasileira e Reforma Agrária, programado para a enseada de Botafogo”.
Foi no show que ouvi de algumas pessoas do movimento que tudo foi muito bonito e importante, mas talvez nada tenha se comparado às visitas que membros do MST fizeram a algumas favelas do Rio de Janeiro. Pena que eu não estava lá para ver. Fica para a próxima. Ficou impresso na memória, porém, a capacidade com que o MST disputa a hegemonia na sociedade: dos músicos ao biju, passando pela editora que eles criaram, à coreografia que eles chamam de mística e na qual são mestres.