Na edição do “Fantástico” do dia 25 de junho, uma reportagem fez leitura labial no técnico Parreira, da seleção brasileira. Alguns jovens com deficiência auditiva acompanhavam os lábios do treinador e traduziam. Claro que muitos palavrões faziam parte do vocabulário utilizado por Parreira. O técnico não gostou nem um pouco. Enviou carta ao departamento de jornalismo da Globo, protestando. Considerou a reportagem uma invasão de sua privacidade. No dia seguinte, Fátima Bernardes usou sua simpatia para pedir desculpas a Parreira e esclarecer que a matéria havia sido feita muito mais como entretenimento do que como jornalismo.

Este vem sendo um problema recorrente no jornalismo da tevê brasileira, principalmente na Globo. É o “showrnalismo”, para usar o apropriado neologismo inventado por José Arbex.

Pouco antes da estréia do Brasil na Copa, o “Fantástico” colocou o jornalista-ator-poeta Pedro Bial para entrevistar Zagallo. Bial usou todo seu talento para arrancar lágrimas ao idoso assistente de Parreira. Aliás, uma prática constante não só de Bial. O close nos olhos de entrevistados emocionados tornou-se tão freqüente quanto apelativo.

A equipe de 180 jornalistas (!) da Globo na Alemanha, vem fazendo de tudo para promover mais dramatizações. O caso de Ronaldo, sua bolha, tonteiras e ligeira obesidade foi um prato cheio. Mais recentemente, o jogador Emerson esteve ameaçado de não jogar contra a França por problemas físicos. O substituto seria Gilberto Silva, seu amigo pessoal. Pois a reportagem resolveu insinuar que a amizade entre os dois estava abalada. Em uma das chamadas especiais direto da Alemanha, Gilberto foi entrevistado. Perguntaram a ele se não estaria torcendo contra a recuperação de Emerson. O jogador foi firme e disse que não. Pois, logo depois entrou no ar o jornal “Hoje”. Uma das manchetes? “O destino coloca a amizade de Emerson e Gilberto Silva em teste”.  Talvez, devesse dizer que Globo é que está testando a amizade entre os dois.

Querem porque querem transformar a cobertura da Copa em telenovela. O problema é que técnico, jogadores e demais envolvidos, inclusive os telespectadores, não foram avisados disso.