Ganhou grande destaque, nessa semana, o falecimento de Ruy Mesquita, diretor de O Estado de São Paulo. A repercussão de sua morte tem aliado o nome do jornalista à defesa da liberdade e democracia. Durante a ditadura, ficou famoso o costume de se publicar trechos de Os Lusíadas ou então receitas de bolo nos jornais do grupo Estadão, nos locais em que entrariam as matérias censuradas. Era uma forma de chamar atenção do leitor para o clima de opressão e silenciamento que reinava naquele momento.
É sempre bom lembrar, no entanto, que o Estadão apoiou o Golpe em 1964. O apoio foi inclusive confessado por Mesquita em uma entrevista ao Roda Viva no ano de 2006, por não concordar com as transformações que estavam em curso naquele momento com João Goulart. Ele disse não se arrepender de ter apoiado os militares naquele momento. “Não me arrependo porque em circunstância iguais àquelas que vivi naquela época, eu faria o mesmo de novo hoje se fosse convidado, como fui convidado por um grupo de militares”. Vale lembrar a manchete do dia 3 de abril de 1964: “Democratas dominam toda a nação”. No dia 2 de abril de 64, um dia após o golpe, o jornal publicava: “Súbito, uma faísca galvanizou a Capital: às 16:30, espalharam-se como rastilho de pólvora, as notícias de que o Rio de Janeiro caíra às mãos do Exército libertador e de que o sr.João Goulart deixara, deposto, a antiga Capital federal. Foi indescritível o júbilo que se apossou da população: um clamor imenso subiu das ruas”.
Além do Estadão, O Globo, O Dia, Jornal do Brasil, Correio Braziliense também apoiaram o golpe. Basta dar uma olhada nos trechos dos editoriais divulgados recentemente pelo portal Carta Maior.