Publicado em 13.05.11 – Por Sérgio Domingues
A maior parte do movimento negro se nega a comemorar o “13 de Maio” por duas razões principais. Primeiro, porque não considera o fim da escravidão como sinônimo de libertação. A liberdade ainda é um direito bastante restrito para a população pobre. Isto é ainda mais verdadeiro para seus setores não brancos.
A outra razão é o caráter elitista da abolição. Um processo longo e gradual de negociação com os senhores de escravos. Transação que tentou trocar a liberdade dos cativos pelo direito de indenização para aqueles que se julgavam seus donos.
Além disso, a data simboliza a vitória do movimento abolicionista. Mas, os abolicionistas, em geral, não defendiam o fim da escravidão olhando para suas vítimas. Sua preocupação era o atraso econômico a que a utilização de mão de obra forçada condenava o País. Mais do que isso, a maioria desaprovava o convívio com uma “raça” que considerava inferior.
Um dos mais famosos e respeitados abolicionistas foi Joaquim Nabuco. Vejam o que ele escreve sobre os negros:
“Muitas das influências da escravidão podem ser atribuídas à raça negra, ao seu desenvolvimento mental atrasado, aos seus instintos bárbaros ainda, às suas superstições grosseiras”.
O trecho acima foi retirado do livro “O Abolicionismo”, de 1863. Abaixo, outra passagem mostra como o autor teme um movimento organizado pelos próprios escravos:
“É assim, no Parlamento e não em fazendas ou quilombos do interior, nem nas ruas e praças das cidades, que se há de ganhar, ou perder, a causa da liberdade”.
Ou seja, era preciso canalizar a revolta dos escravos para as instituições da monarquia imperial. Desse modo, tentava-se afastar qualquer radicalização que fugisse ao controle da elite branca “esclarecida”.
Felizmente, houve várias revoltas, atos de sabotagem, ações violentas, lideradas por escravos. Do contrário, a negociação pelo alto teria resultados ainda piores. Mas, o fato é que a maioria dos abolicionistas não queria livrar o povo negro. Queria livrar-se dele.
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