Em nome do papel político dos jornalistas na sociedade e de seu dever ético na defesa dos Direitos Humanos, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro denuncia a barbárie como a lógica que tem pautado a segurança pública estadual. Nesta segunda-feira (23/2), nosso Sindicato participou na Maré, com a presença de três diretores, de um ato pela vida e contra a criminalização da pobreza e o genocídio praticado pelo Estado nas favelas cariocas.
Testemunhamos a violência representada pelo desproporcional aparato policial de repressão ao ato. Repudiamos as tentativas do Estado, de setores conservadores das forças políticas e do oligopólio da mídia de conferir um caráter criminoso à manifestação, uma legítima expressão da revolta e da indignação da juventude e de suas famílias moradoras da Maré. Não compactuamos com atos de violência praticados por uma minoria dos participantes, mas nada justifica reprimir pedradas com armas letais. Ainda não é possível medir as consequências da barbárie.
Policiais militares, com uso de armas pesadas, cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo, gás de pimenta e de um helicóptero, não bastasse a presença ameaçadora dos tanques e das armas do Exército, que ocupa a favela há cerca de um ano. Ficamos encurralados por esse aparato e sob a ameaça iminente de um abrir fogo justamente no momento em que o ato seguia pelo acesso às vias expressas conhecidas como Linhas Vermelha e Amarela.
A violência militar dispersou os manifestantes por volta das 22h, mas até cerca de meia-noite ouviu-se tiros e ataques a bombas nas vias à margem da favela, que foi invadida por policiais de diferentes unidades, entre as quais o Batalhão de Choque o de Operações Especiais (Bope). Casas, becos e vielas se tornaram alvo de ataques a bombas da PM em seis favelas da Maré (Timbau, Baixa do Sapateiro, Conjunto Esperança, Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Vila do Pinheiro e Vila do João).
A violência testemunhada e enfrentada por nossa direção não foi um fato isolado. Infelizmente, trata-se de rotina para a população da Maré, onde há confirmada a notícia de pelo menos um morto e dez feridos a balas em menos de um mês. Neste sábado (21/2), durante um tiroteio, cinco pessoas foram baleadas dentro de uma Kombi. Essa também não é uma realidade exclusiva da Maré, mas de todas as favelas do Rio de Janeiro, onde a militarização da segurança pública elege como inimigos e elimina sumariamente os jovens, negros e pobres. Reivindicamos do governo estadual que realize imediatamente uma mudança de rumos na política de segurança pública. Precisamos de uma segurança pública em defesa da vida, que não seja racista e que não discrimine a população por seu endereço.
Diretoria do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro.