Por Sheila Jacob

Na tarde do dia 29 de janeiro, o NPC promoveu no Fórum Social Mundial uma discussão sobre a campanha da grande mídia de criminalização das favelas e da população pobre. Segundo a jornalista Claudia Santiago, coordenadora do NPC, os meios de comunicação comerciais são os principais responsáveis pela banalização da violência policial em comunidades pobres.

“No Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia, em diversos lugares do país existe uma grande parcela da população sendo exterminada. E a grande mídia tem papel central no convencimento de que isso é certo”, denunciou Claudia. Cartazes com recortes do jornal O Globo estampados nas paredes confirmavam a afirmação.

Gizele Martins, estudante de jornalismo e editora do jornal “O Cidadão”, da Maré, fez um relato emocionante do tratamento que a grande mídia dá ao cotidiano das favelas.

“O pobre perde a própria identidade e não pode se assumir como morador de favela, porque logo é chamado de bandido ou traficante. Tive muitas vezes que esconder no meu currículo que sou moradora da Maré para poder tentar arrumar emprego”, relatou.


Ela lembrou ainda o caso recente do menino Matheus, de oito anos, assassinado por um policial militar às 7 horas da manhã na favela da Maré. “Essa prática normalmente é justificada, já que os pobres são apresentados como bandidos pela grande mídia. E eles disseram ainda que houve troca de tiro, mas eu, que moro na rua ao lado, não ouvi um tiro sequer”, relatou Gizele, emocionada.

Também participaram da oficina parentes de vítimas de violência policial, como Luciene Silva, mãe de um jovem de 17 anos assassinado na chacina da Baixada Fluminense, que ocorreu há quatro anos. Na ocasião, 29 moradores de Nova Iguaçu foram assassinados por cinco policiais militares. “A chacina só teve repercussão porque quase trinta pessoas morreram. Ainda continua morrendo gente a varejo”, denunciou Luciene.

Além da violência policial, a habitação foi tema do encontro. Jorge Santos, do Movimento União Popular pelo Direito à Moradia, lembrou a situação de despejo a que muitos são submetidos. “Nós ocupamos os locais que ninguém queria, no passado. Quando a região começa a ficar valorizada, em nome do meio-ambiente despejam a gente das nossas casas”.

Como proposta de alteração desse quadro, Vito Giannotti, também do NPC, e o doutorando em ciências sociais, Guilherme Marques, sugeriram a criação e formação de meios alternativos, para criar uma outra mentalidade, “em que não seja mais justificável o extermínio da população pobre e negra no Brasil”.