Por Marcelo Salles – Fazendo Media

“Ao pé da letra, é besteirol puro”, diz o articulista. O mesmo não se pode dizer do brilhante, incrível, supremo neologismo que usa no título de seu artigo, a supor que o cenário da mídia brasileira é de plena democracia e que alguns sujeitos autoritários querem acabar com a brincadeira.

De resto, o artigo de Garcia é infantil, bobo e por demais simplista. Confunde governo com Estado, desconhece o artigo 223 da Constituição (que prevê meios de comunicação privados, estatais e públicos) e parece acreditar piamente que os veículos de sucesso serão os escolhidos pela sociedade, terão patrocínios e prosperarão – nessa ordem. E, ai, ai, ai, “quem se portar mal, responderá na Justiça, que é quem regulamenta os direitos de calúnia, difamação e injúria, assim como o direito de resposta”. Assim mesmo, como num lindo conto de fadas.

Para Luiz Garcia, Ali Kamel, Merval Pereira e outros, a mídia brasileira é plenamente democrática. Não importa que seis emissoras ideologicamente afinadas falem o que querem e como querem para 190 milhões de pessoas ou que dezenas de parlamentares controlem veículos de rádio e televisão, contrariando o artigo 53 da Constituição. Nem que rádios comunitárias estejam sendo fechadas arbitrariamente.

Propositalmente não dizem que em outros países o Estado garante equilíbrio, pluralidade e diversidade entre os veículos de comunicação, muitas vezes investindo nos meios alternativos. Isso é compreender o acesso à comunicação como um direito e não como uma oportunidade de negócio. O negócio deles é atacar as propostas democratizantes da mídia, apoiar as medidas de controle da internet para, desta forma, manter o monopólio.

Cabe aos parlamentares dignos desta República não aceitarem, de forma alguma, essa imposição descabida. E se não for possível vencer a votação, que não entrem em qualquer acordo. Venham a público e façam a denúncia. E que os movimentos sociais tomem as ruas e levantem esta bandeira. Porque, em tempos de internet livre, pouco importa o silêncio dos gigantes da mídia.