Por Luisa Souto, abril de 2004
No dia 1º de abril de 1964, militares e empresários, apoiados por grande parte de classe média brasileira, e também da hierarquia da Igreja Católica, deram um Golpe político que instaurou a Ditadura Militar no Brasil. Um Golpe que já vinha sendo arquitetado há bastante tempo. Junto com eles, o tempo todo, estava a Embaixada Americana.
A renúncia de Jânio Quadro e a posse de Goulart
Jânio Quadros, presidente eleito em 1960, renunciou em 1961. Como rezava a Constituição o vice-presidente, João Goulart, deveria ocupar imediatamente o seu lugar. Só que, por coincidência, este se encontrava na China no momento da renúncia. Os militares, que já temiam sua posse, aproveitaram para levantar o fantasma de que ele seria um comunista e usavam como evidência o fato de ele estar na China, que era comunista. Ele volta e ao tentar desembarcar no Rio de Janeiro é avisado que seria imediatamente preso caso o fizesse.
Então, Jango decide desembarcar em Porto Alegre onde a esquerda encontrava-se mais organizada sob a liderança do governo do Estado, Leonel de Moura Brizola. Lá, teria proteção ao chegar. Depois de reuniões com os militares, ele assume a Presidência, porém o regime passa do presidencialismo ao parlamentarismo, ou seja, todas as decisões necessitariam do aval do primeiro-ministro, que era Tancredo Neves.
Esse sistema dura dois anos e pouco, mas acaba cedendo às pressões da esquerda que queria as Reformas de Base. Volta então, o presidencialismo, mas que não resiste muito tempo e é derrubado pelo Golpe.
O Golpe Militar
A proximidade cada vez maior de realização das reformas fez com que, na madrugada de 31 de março, o general Mourão Filho, iniciasse as movimentações em torno do Golpe ao ordenar que suas tropas militares saíssem de Minas em direção à Guanabara. O também general, Amaury Kruel, hesitava em liberar as suas tropas (SP) para o Rio. Assim, ele faz uma ligação para o presidente da República para tentar convencê-lo a desistir de suas reformas e, se ele aceitasse, teria a proteção de suas tropas. Diante da recusa de Jango, o general Kruel libera suas tropas para se unirem as de Mourão Filho.
Jango decide ir do Rio em direção a Brasília, mas ao chegar é avisado de que se lá desembarcasse seria imediatamente preso. Assim, em poucas horas, lá estava ele voando para Porto Alegre.
Enquanto isso, no Congresso Nacional, a direita tentava aprovar uma declaração de que a Presidência da República estaria vaga. Prevendo que isso fosse acontecer, os assessores do governo de Jango enviaram uma carta para ser lida nessa audiência, declarando que o presidente se encontrava em território nacional. Porém, ao invés dessa, é lida uma outra, distorcida, que dizia que devido aos últimos acontecimentos o presidente já havia deixado o País.
Um dos ministros fiéis a Jango ainda tenta desmentir a situação, mas é arrancado à força da bancada. Sendo assim, a Presidência é declarada vaga e o presidente da Câmara dos Deputados assume o cargo. Ao chegar a Porto Alegre Jango é informado do que havia ocorrido. Brizola tenta convencê-lo de que uma resistência armada é necessária, mas vendo que não havia tido resistência nem por parte da população, nem por boa parte da esquerda ele resolver entregar os pontos. Exilado, no Uruguai, só lhe restava a esperança de um dia retornar ao Brasil, numa outra realidade.
Os primeiros anos pós-Golpes
Ainda em 64 são convocadas novas eleições, desta vez indiretas, e Castelo Branco é eleito presidente. Alguns ainda tinham a esperança de que aquilo durasse pouco tempo. Porém, com a prorrogação deste mandato, feita pelo próprio Castelo Branco, as esperanças se esvaíram e estava de fato decretada a Ditadura Militar no país. Começa aí a historia de repressão e tortura, que durou 21 anos.
Os grupos envolvidos na execução do Golpe tentavam justificar suas ações garantindo que havia sido um golpe para evitar outro golpe. Segundo eles, com ideologias que vigoram até hoje, a esquerda comunista estava também preparada para dar um golpe. Mentira! Este Golpe civil-militar dado pela direita é que já vinha sendo preparado há 10 anos, desde a época em que Getúlio Vargas, ao assumir o seu segundo mandato, elabora uma política nacional-desenvolvimentista e passa a ser perseguido. E foi por isso que a única saída encontrada pelo presidente daquela época (1954) foi o suicídio.
A causa principal do Golpe foi o conservadorismo. Ao perceberem uma manifestação mais justa do governante, os conservadores logo ficaram com medo e retomam as organizações em torno do Golpe. Para conseguir aliados, passaram a fazer propaganda com o objetivo de incutir o medo nas pessoas. A classe média teme perder seus bens. Os empresários temiam a desvalorização dos seus negócios, caso houvesse um retrocesso no capitalismo.
Contavam com o apoio dos meios de comunicação, com exceção de um jornal, o Última Hora. Propagavam a idéia de que Jango seria comunista e que junto com Brizola iriam fazer no Brasil o mesmo que ocorreu em Cuba. O que eles esqueciam, é que nem Fidel Castro era comunista quando fez a revolução.
Jango não era comunista como diziam os políticos da direita. Era simplesmente um político que pregava a realização de reformas que tornariam a sociedade brasileira uma sociedade mais justa. Adaptada aos avanços do capitalismo.
(Luisa Souto é aluna da 3ª série do ensino médio do CEAT (Centro Educacional Anísio Teixeira). Tem 17 anos. O artigo foi escrito depois de uma série de atividades promovidas pela escola, alusivas ao Golpe Militar: aulão com jogral e músicas, debates, filme e peça teatral.)