Entre os métodos de manutenção de poder político das oligarquias nordestinas, o coronelismo eletrônico predominou durante décadas e permanece até os dias de hoje, em alguns estados. No Maranhão, o fenômeno era o mais citado por certa elite intelectual antisarneysista, rendendo pesquisas e teses nos meios universitários maranhenses, ao sabor das teorias de “adesão das massas”, que consideravam os receptores “passivos” e “manipuláveis” a toda espécie de influência dos poderosos meios de comunicação.
Durante anos, havia um mapa maranhense da comunicação oficial controlada por ocupantes de cargos públicos, eletivos ou não, empresários e aliados ligados ao grupo Sarney. Nesta geopolítica, o estado era dividida em feudos eleitorais, comandados por prefeitos que se alternavam no poder, invariavelmente com o controle de rádios ou TVs locais. Em 2006, foi possível perceber tal configuração em um estudo feito por uma consultoria, apresentado ao governo José Reinaldo Tavares, ocasião sem precedentes na história da comunicação oficial do Estado do Maranhão.
“Comunicação de bajulação”- Quinze anos depois, a partir de eleição de Jackson Lago (2006), mudanças estruturais aconteceram na política maranhense. A Comunicação Pública (e não Estatal), porém, pouco avançou. Nenhuma diferença significativa foi verificada naquilo que seria uma política pública de comunicação, substituída pela propaganda ostensiva dos feitos dos mandatários e das respectivas secretarias. A publicidade, com suas polpudas verbas públicas, costuma sobrepor-se ao diálogo com as comunidades, bairros ou municípios, em um processo vertical e autoritário. Segundo classifica o jornalista e escritor Emílio Azevedo, é uma espécie de “comunicação de bajulação”, que pouco contribui na mediação entre população e governos.
Esta semana, uma pesquisa tem sido divulgada entre os comunicadores maranhenses, apontando a rádio Difusora como a mais ouvida pela internet no Maranhão. Colada à informação, os assessores comemoram o fato das rádios do ex-senador Lobão e do deputado federal Josimar de Maranhãozinho “ficarem na lanterna”. O coronelismo eletrônico do século XXI ainda sobrevive com força no estado, em afronta direta ao artigo 54 da Constituição Federal, que proíbe deputados e senadores de possuírem empresas que firmem ou mantenham contratos com autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviço público.
A desfaçatez no caso do arredamento do Sistema Difusora de Comunicação é tamanha que até mesmo a Wikipédia registra a negociata: “Posteriormente, o então deputado federal Weverton Rocha, representado pelo advogado e empresário Willer Tomaz de Sousa arrendou a emissora e a Difusora FM, comprando definitivamente o grupo em março de 2020”.
Leia: http://(https://pt.wikipedia.org/wiki/TV_Difusora_S%C3%A3o_Lu%C3%ADs)
A prática do coronelismo eletrônico, com uso de comunicadores e do noticiário para favorecer eleitoralmente políticos, viola ainda outros artigos da Constituição como o Direito à Informação (artigos 5º e 220), a separação entre os Sistemas Público, Estatal e Privado de Comunicação (artigo 223), o Direito à Realização de Eleições Livres (artigo 60), entre outros.
O Maranhão, governado por um partido de esquerda, não pode jogar esse debate para debaixo do tapete. Ano passado, o PT reconheceu publicamente que perdia a guerra da comunicação para a direita. Repetir práticas nefastas que incluem abuso de poder econômico, fake news, arredamento de emissoras públicas e outros métodos conservadores é – no mínimo – se igualar a tudo aquilo que significa cidadania, pluralismo e, sobretudo, ao que se deve considerar como valores democráticos.