Por João Pedro Stédile
Rio – O povo brasileiro paga com vidas pelos crimes ambientais. O início de ano está sendo uma desgraça. Dezenas de mortos, em especial no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Apesar de toda propaganda de “modernismo”, no Brasil ainda se morre pela chuva, e todas as mortes poderiam ser evitadas.
A televisão expõe apenas os sentimentos e as dores da população e esquece-se de debater porque esses problemas ambientais acontecem. Por que a população tem que pagar com vidas pelos crimes ambientais do modelo econômico?
Por que, num país de dimensões continentais, famílias precisam construir casas nos morros, encostas e beira de rios? Quem deu a licença para construir as pousadas na Ilha Grande, em reserva ambiental?
No Brasil, há um processo de expulsão e exclusão permanente da população pobre do acesso à terra e à moradia. Primeiro, concentram a terra e expulsam a população do interior para as regiões metropolitanas.
Nas cidades, a história se repete. Os pobres não têm como pagar aluguel. Não há casa para trabalhador, e o povo constrói nas encostas.
Em São Paulo, 400 mil imóveis estão vagos e fechados, e o déficit habitacional no País é de dez milhões de moradias. O programa de construção de um milhão de casas é bom, mas insuficiente.
Não há solução paliativa. É preciso mudar o modelo econômico. Fixar a população no interior. Fazer uma reforma agrária e urbana, que garanta o direito à terra e à moradia para todos, sem agredir a natureza.
Enquanto isso não acontece, os políticos de plantão seguirão com suas demagogias, escondendo suas responsabilidades. E, a cada ano, resta ao povo, o choro. Até que um dia ele se canse.