[Por Sérgio Domingues] O filme “O Som ao Redor” está chegando às locadoras. Quem não viu, deve aproveitar a oportunidade. E quem assistiu, tem motivos para repetir a dose.
A produção do cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho tem muitos méritos. Elenco, fotografia, direção, roteiro. Mas é o clima de suspense que prende a atenção. A trama trata basicamente de uma área residencial em um bairro de classe média de Recife. Os integrantes de uma milícia aparecem oferecendo segurança particular aos moradores.
Um idoso que é latifundiário no interior, possui vários imóveis na capital. É o patriarca local, de quem os milicianos conseguem autorização para atuar.
Tudo parece sob controle. Mas a tensão cresce.
Uma jovem dona de casa não consegue dormir por causa dos latidos do cachorro do vizinho. Durante o dia, fuma maconha e se masturba. Um dos netos do patriarca comete furtos em automóveis da vizinhança, desafiando os novos seguranças. Outro neto não sabe o que fazer da vida de conforto material que leva. Um casal de adolescentes se agarra pelos cantos. As empregadas vão e vêm como sombras. Festinhas rolam e automóveis cruzam as pacatas ruas em alta velocidade.
Estes e outros elementos compõem o som que rodeia o conforto do bairro. Rumor incômodo, acumulado por um ódio e sede de vingança só revelados no final do filme. Esse ruído acompanha a história brasileira há séculos, produto da truculência dos que incluem vidas humanas entre os bens de que podem dispor.
Lançado meses antes das manifestações que abalam o País, o filme parecia pressentir alguma coisa. A tranquilidade e a segurança aparentes podem preceder a explosão.