[Por Rosângela Ribeiro Gil*] A estreia da seção “De olho na mídia internacional” não poderia deixar de registrar a capa da edição impressa do jornal argentino “Página 12”, de 18 último. Com um desenho de alto a baixo, sugere que o luto não é pela morte do general ditador Jorge Rafael Videla, ocorrida no dia 17, mas pela vida.
Com brilhantismo e total precisão, Victoria Ginzberg diz nas linhas iniciais de sua reportagem: “Murió Jorge Rafael Videla y escapó así de su infierno. Del infierno de saberse preso, condenado y repudiado.” E prossegue descrevendo que o ditador, principal braço executor do terrorismo de Estado em todo o país entre 1976 e 1983, morreu aos 87 anos no cárcere de Marcos Paz de morte natural, diferente de milhares de suas vítimas, em sua maioria jovem, que ordenou sequestrar, torturar, assassinar e jogar ao mar para ocultar seus corpos.
Ginzberg faz uma digressão sobre a vida de Videla, desde a sua infância, até os dias atuais. Sem precisar carregar em adjetivos panfletários, ela usa as próprias palavras do ditador para não deixar dúvidas de qual personagem o mundo se despede com um “nunca mais”: “Frente al desaparecido en tanto está como tal, es una incógnita el desaparecido. Si el hombre apareciera tendría un tratamiento x, si la aparición se convirtiera en certeza de su fallecimiento tiene un tratamiento z, pero mientras sea desaparecido no puede tener un tratamiento especial: es un desaparecido, no tiene entidad, no está ni muerto ni vivo, está desaparecido. Frente a eso no podemos hacer nada.”
Constata que não há tristeza pela morte de Videla, mas pelas informações que “morreram” com ele: os dados sobre o destino dos desaparecidos e seus filhos, hoje jovens com 30 anos que não conhecem sua verdadeira identidade. Para a matéria na íntegra clique aqui.
*Rosângela Gil é jornalista sindical e passa a assinar esta coluna semanal a partir desta edição do Boletim NPC.