Por Fabiana Reinholz – Redação FNDC

O Brasil tem a maior população de origem africana do mundo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os declarados negros representam 6,3% e os pardos 43,2% da população brasileira. Contudo, a presença desse segmento nos meios de comunicação – em especial no jornalismo, é muito pequena. De acordo com o último censo, realizado em 2000 pelo (IBGE), a proporção de negros na imprensa é de apenas 15,7 %. Reconhecer sua contribuição histórica na construção da sociedade é um caminho para a democratização dos meios de comunicação.

Refletindo sobre esse paradoxo, jornalistas negros de Brasília criaram a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial no DF (Cojira-DF). Uma das propostas do movimento, segundo Juliana Cezar Menezes, jornalista da Radiobrás e integrante do Cojira do DF, é promover cursos para profissionais e estudantes sobre a questão racial, a importância de pautar indicadores de desigualdade racial nas matérias, inteirar sobre as políticas públicas que vêm tentando combater o racismo institucional. De acordo com Juliana, não adianta condenar a imprensa por tudo, e sim levar até ela conhecimento e informação sobre a questão da desigualdade racial.

Para exemplificar, ela cita o caso das políticas de ações afirmativas, quase sempre destacadas na imprensa de forma polêmica, como algo que não funciona, ou abordando o debate superficialmente. “O que queremos é orientação, formação e informação, não é nenhuma caça às bruxas”, afirma.

Em entrevista ao Observatório do Direito à Comunicação, Paulo Rogério Nunes, publicitário e diretor executivo do Instituto Mídia Étnica, disse que é preciso “descolonizar os meios de comunicação” para resgatar conceitos e valores presentes na cultura negra. Segundo Nunes, ainda, as reflexões sobre racismo devem pautar a concepção de TV pública no país: “É tolerável que uma TV comercial não represente o negro, mas é inaceitável que uma TV pública, que se propõe a dar voz aos diversos segmentos da sociedade, faça a mesma coisa”, pondera.

Segundo Vera Daisy Barcellos coordenadora, juntamente com Janice Dias Ramos, do Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros do Rio Grande do Sul, há uma grande invisibilidade da população negra nos veículos de comunicação, na televisão, na imprensa e até mesmo no noticiário de rádio. “A imprensa brasileira não dá a devida atenção para as questões da população negra” diz. Para reverter essa situação, Vera Daisy acredita ser preciso democratizar os veículos de comunicação. “Acentuar o interesse dos veículos de comunicação na cobertura de pautas sobre essa questão social”, analisa. Para a coordenadora, é preciso a inclusão de uma maior cota de jornalistas negros nas redações. “Mas tem um detalhe, um fator complicador, que é a dificuldade ao acesso a universidades”, conclui.

Faces do racismo

“Vivemos num país racista, onde há um vácuo muito grande entre a população negra e branca, e esse vácuo se reflete na diferença de salários, ao acesso a universidade, ao mercado de trabalho” aponta Vera Daisy. Assim como Vera, Juliana acredita que as universidades precisam abordar a questão afro-brasileira na construção do país de uma forma mais ampla, “descortinando a participação da cultura negra na construção da sociedade, um estudo aprofundado sobre seu legado”.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, houve um aumento no percentual de brasileiros que se declaram negros ou pardos no ensino superior, registrando um acréscimo de 18% para 30%.