[Por Sérgio Domingues] As polícias brasileiras mataram quase 50 mil pessoas de 2012 a 2022, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foram 12 mortes diárias. O site Observatório de Mortes e Violências contra LBGTI+ registrou 273 mortes violentas envolvendo essa população, em 2022. O número representa uma pessoa LGBTI+ assassinada a cada 32 horas, no Brasil.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2022, uma mulher foi morta a cada seis horas no país, num total de 1.437 vítimas de feminicídio.

Estudo do Unicef, divulgado em maio de 2022, identificou 35 mil mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes no Brasil, entre 2016 e 2020. Levantamento do Observatório Polos de Cidadania da UFMG mostra que a população de rua era de 220 mil pessoas no país, em junho passado.

Os números acima poderiam ser os de uma guerra. Não são porque apenas um dos lados está armado. O lado da violência estatal e paraestatal (milícias). Mas também o da criminalidade, que mantém embaixo a violência que deveria ser dirigida para cima.

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Boa parte da esquerda não sabe como responder a essa situação, a não ser com argumentos retóricos ou defendendo uma democracia que não funciona para a grande maioria.

Ítalo Calvino disse certa vez que é preciso “reconhecer quem e o quê, no meio do inferno, não é inferno”. Já seria um primeiro passo. E um bom exemplo é o Padre Júlio Lancellotti. Sua luta tem como alvo mais os efeitos que as causas da pobreza e da violência de classe. Mas é uma clareira no meio do inferno que precisa ser defendida e ampliada.