[Publicado em 16.04.2011 – Por Sérgio Domingues]
O MEC adotou o livro “Por uma Vida Melhor” para uso do 6º ano do ensino fundamental. A publicação é da ONG Ação Educativa. A imprensa caiu matando na parte dedicada à língua portuguesa da obra. O motivo é a frase “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”. Segundo a publicação, a frase nada tem de errado. Trata se de uma forma de expressão perfeitamente aceitável.
A mídia diz que o livro é polêmico. Mas, algo polêmico pressupõe opiniões divergentes. Na grande imprensa, até agora, só apareceu uma visão: a publicação é uma apologia à ignorância.
No site da ONG estão disponíveis apenas três páginas da obra. O capítulo 1, intitulado “Escrever é diferente de falar”, afirma:
“As classes sociais menos escolarizadas usam uma variante da língua diferente da usada pelas classes sociais que têm mais escolarização. Por uma questão de prestígio – vale lembrar que a língua é um instrumento de poder -, essa segunda variante é chamada de variedade culta ou norma culta, enquanto a primeira é denominada variedade popular ou norma popular”.
Outro trecho diz que:
“…as duas variantes são eficientes como meios de comunicação. A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter um sinal de prestígio. Nesse sentido, é comum que se atribua um preconceito social em relação à variante popular usada pela maioria dos brasileiros. Esse preconceito não é de razão lingüística, mas social. Por isso, um falante deve dominar as diversas variantes porque cada um tem seu lugar na comunicação cotidiana”.
Marcos Bagno é um lingüista que estuda essa questão há muito anos. Não foi consultado pelos jornalões. Ele considera que “somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas ‘classes populares’ poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito”.
Ainda segundo Bagno, “defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada”.
O mais interessante é ver os defensores da pureza da língua tropeçarem nas próprias palavras. Vejam o que Bagno diz sobre isso:
“Ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: ‘Como é que fica então as concordâncias?’. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: E as concordâncias, como é que ficam então?’”
Leia o artigo de Marcos Bagno, clicando aqui
Sérgio Domingues
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