Por Mário Augusto Jakobskind
Os meios de comunicação nacionais e de outras partes do mundo estão dando grande destaque ao referendo ilegal realizado em Santa Cruz de la Sierra e que agora está programado para outros departamentos da chamada Meia Lua. O objetivo é claro: a divisão, balcanização, da Bolívia, visivelmente estimulada pelo governo dos Estados Unidos.
Jornais e televisões, sem nenhum espírito crítico e aceitando o referendo como um fato consumado, estão dando o máximo destaque para o resultado manipulado da consulta feita regionalmente. Manchetes são apresentadas mostrando que o sim pregado pela direita teve 85% de apoio, quando os percentuais deveriam ser apresentados de outra forma. Houve uma abstenção de cerca de 40%. Ou seja, de 933 mil eleitores votaram 569 mil cruceños, segundo a Rede de Televisão boliviana ATB.
Geralmente o percentual de abstenção eleitoral tem sido entre 20 e 22%. Então, o referendo de Santa Cruz de la Sierra não foi tão de grandes proporções como tenta demonstrar a mídia conservadora. Além disso, 15% dos que foram votar disseram não à divisão. Neste caso, o percentual dos contrários a autonomia deve ser apresentado como de 55%.
Números falam por si só
Houve áreas em Santa Cruz que a abstenção alcançou 60 e 62%, como nas cidades de Montero e Saipina, para não falar de San Julián e Cuatro Cañadas, onde o repúdio popular ao referendo promovido pelas elites da província foi ainda mais evidente com 100% de abstenção.
Desde as primeiras horas após a eleição os canais de televisão informavam de forma primária sobre os acontecimentos do domingo e canais a cabo convocavam os analistas para mostrar que o governo de Evo Morales foi amplamente derrotado. O outro lado, ou seja, os defensores do governo constitucional, foi muito pouco consultado pelos veículos de comunicação. De um modo geral eram apresentados como responsável pelos confrontos que resultaram em um morto e dezenas de feridos.
Manifesto vetado
Na Bolívia, segundo denunciam representações do movimento social, os jornalões recusaram publicar um manifesto firmado por inúmeras entidades mostrando o caráter golpista da consulta popular. O destaque das agências de notícias ficou com o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Branco Marinkovic, que logo após serem conhecidos os primeiros resultados de boca de urna disse que “hoje dizemos ao mundo que já somos autônomos, viva Santa Cruz”.
Os meios de comunicação não divulgaram a denúncia feita pelo coordenador continental do Movimento de Jovens e Povos Originários, o aymara Titi Wayra, segundo a qual a União Juvenil Cruceñista, defensora incondicional da consulta ilegal, está sendo treinada por paramilitares colombianos para manter, pela força, a resistência às mudanças e o processo de balcanização da Bolívia, que conta com o apoio da Embaixada dos Estados Unidos. Morales foi mais longe ainda ao acusar a participação nos treinamentos de paramilitares da Autodefesas Unidas da Colômbia.
Financiamento da oposição
O manto de silêncio se estendeu também à denúncia de que o governo dos Estados Unidos entregou mais de 120 milhões de dólares aos líderes políticos oposicionistas que querem separar as regiões mais ricas do resto da Bolívia. Neste caso, a Embaixada dos Estados Unidos na Bolívia, chefiada por Philip Goldberg, estaria concedendo recursos doados pela National Endowment for Democracy (NED), aos prefeitos (governadores) de oposicionistas de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija, da área da Meia Lua.
Se os fatos fossem apresentados de forma proporcional, ou seja, ouvindo-se os argumentos de todos os lados, leitores e telespectadores estariam em melhores condições de tirar uma conclusão sobre os acontecimentos do último domingo. Mas com a manipulação da informação, o objetivo é fazer com que se conclua que Morales teve uma grande derrota e que a direita que abomina os índios é a vencedora. Isto tem um nome, isto é, manipulação da informação.
Para evitar o agravamento da situação, o presidente boliviano convocou os governadores dos Estados dominados pela oposição para um diálogo. É, talvez, a última tentativa de evitar o pior, que seria uma guerra civil.
Quando este artigo estava sendo elaborado veio a informação de que em Cochabamba ocorreu uma grande manifestação em que milhares de pessoas pediam, entre outras coisas, a renúnca imediata do prefeito (governador) Manfred Reyes Villa por dividir o país e Cochabamba e a expulsão do embaixador Philip Goldberg por intromissão em assuntos internos da Bolívia.
Fonte: FazendoMedia