[Por Gabriela Gomes] Em mais uma edição do programa Quintas Resistentes (11/06), o convidado de última quinta-feira foi o ator Paulo Giardini, que contou histórias da sua carreira no cinema e no teatro, fez algumas reflexões políticas e falou sobre a arte como enfrentamento do regime militar.
Falando do início de sua carreira, Giardini lembra que, por volta dos 15 anos de idade, quando começou, era um tipo de “faz-tudo”: porteiro, Iluminador, contrarregra etc. Fez de tudo um pouco até chegar aos palcos. O que, garante ele, foi muito positivo para sua carreira, pois teve oportunidade de aprender praticamente tudo sobre o ofício do teatro.
Paulo lembra que sua carreira iniciou justamente em um momento de efervescência política e que os grupos queriam ganhar voz no meio da repressão e do autoritarismo. A censura era muito forte, as produções artísticas eram cortadas, algumas vezes em sua totalidade e, portanto, precisavam ser muito bem elaboradas para driblar essa barreira criada pela ditadura.
Fazendo uma comparação com a situação atual, Giardini considera que essa censura era mais evidente, já era que bruta e escancarada, e hoje acontece de uma forma velada: “Vivíamos muito essa tensão de uma negociação pra existir, o que é um paralelo muito forte do que estamos vivendo hoje e dia, um outro tipo de ditadura”.
Giardini lembra que se afirmou como ator quando trabalhou com o diretor Fauzi Arap, responsável pelo Teatro Oficina, de quem reconhece ter sofrido uma grande influência. Os textos de luta e movimentos fundamentais que conhecemos atualmente foram criados nesse período de angústia em que era necessário ter muito cuidado com a expressão das ideias, lembra o ator.
Crescente falta de incentivo à cultura
Ainda em São Paulo, foi ator do Grupo TAPA (Teatro Amador Produções Artísticas), onde ministrava aulas, ensaiava e encenava as peças. Vindo para o Rio de Janeiro dirigiu e coordenou a Casa da Gávea, além de participar de projetos sociais que eram desenvolvidos neste espaço.
Trabalhou com diretores como Aderbal Freire, Moacir Chaves, Domingos de Oliveira e muitos outros que contribuíram para o seu crescimento profissional. Entre as atuações no cinema, televisão e teatro, Giardini afirma que sempre teve maior expressão nas peças, já que foi onde mais atuou, lembrando algumas das produções em que participou: “O homem que viu o disco voador”, “Confronto”, “Vianinha conta o último combate do homem comum” e “Em nome da lei”.
Desde a ditadura militar até os dias de hoje, o ator acredita que falta incentivo para classe trabalhadora artística. Trata-se, conforme Giardini, de um grupo que atualmente conta com pouquíssimo ou quase nenhum apoio por parte do estado. Ele afirma que pelo menos antes existia um projeto e dinheiro do governo.
Mesmo com a pandemia, que estamos vivendo, que fez com que a cultura ganhe grande destaque entrando em nossas casas através de lives, filmes, peças, palestras etc. e que, com o auxílio da internet, é possível manter a qualidade, ainda assim, há um projeto de extermínio da arte. “O projeto hoje é liquidar a cultura”, afirma ele.
Foi durante um protesto que acontecia próximo a sua escola, quando um jovem foi ferido, que, quando jovem, Giardini deu-se conta da necessidade de questionar a realidade em que vivia. Lembra que o grupo protestava contra o autoritarismo e reivindicava seus direitos. O jovem Paulo se viu incomodado: “Esse momento me fez desconfiar do status quo, do que a gente estava vivendo”, explicou.
A importância da discussão e da consolidação da arte
Paulo relembrou a importância do teatro-escola, quando a escola ia até o teatro e falou ainda sobre o chamou de “sementinhas da criação de plateia”. De acordo com Giardini, é preciso haver uma explicação do contexto para entender o que se está consumindo. Deve existir uma mobilização, pois o auge da transformação e da paixão pela arte se dá quando o espectador é provocado por uma inquietação.
Quando busca entender o que está acontecendo dentro de si próprio e entender por que tal coisa o emociona. Logo, o ator necessita dar algo de extrema qualidade para quem o assiste.
“Sempre fui muito atento à técnica desde moleque. Quis estudar e verticalizar meu olhar.” A paixão pela técnica, afirma, foi algo que o mobilizou. Paulo considera que a arte tem o papel fundamental de revisitar e recontar a história, com cada vez mais dados e informações, e fazê-lo de forma palatável, saborosa.
E mesmo com essa ofensiva dos governos atuais de enfraquecimento da cultura, ele enxerga a arte como algo que nos impulsiona e “dá gás”:
— “A natureza da arte é um incômodo! Isso é o combustível pra resistir!”.
Para assistir esse programa e as edições anteriores do Quintas Resistentes, acesse: NUCLEOPIRATININGA.ORG.BR/QUINTASRESISTENTES.