A infeliz idéia de Pedro Bial, o repórter que se sujeitou a apresentar o programa Big Brother Brasil, da Rede Globo de Televisão, em tentar equiparar, em termos culturais, o programa copiado dos norte-americanos, com o nosso mineiro poeta Guimarães Rosa, é no mínimo um disparate; é demonstrar que cultura não é o seu forte; que a submissão aos mandos e desmandos da Globo frita os seus miolos a cada dia; que a capacidade comunicacional está restrita ao bisbilhotar a vida alheia, mesmo que esta vida alheia seja uma farsa, um jogo, uma disputa mercadológica.
Infelizmente, profissionais competentes estão se curvando à imoralidade e amoralidade, consciente dos impactos causados aos telespectadores, que, fascinados pela telinha, começam a organizar suas vidas e tomar ações, de modo a se sentirem como um personagem do BBB na vida real.
O pacto ficcional proposto pela globo foi aos poucos e, premeditadamente, inundando o ser de cada um.
Cabe na cabeça de quem comparar um poliglota, defensor irrestrito da cultura nacional, que falava português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; lia: sueco, holandês, latim e grego (mesmo com o dicionário agarrado); entendia alguns dialetos alemães; estudou a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês. E achava que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajudaria muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração. Só mesmo de alguém que fala pelos cotovelos.
Isto tudo é um absurdo, principalmente de um programa importado, dos que se acham os donos do mundo.