Recebemos, por email, de Eduardo Stotz, a obra “Deutsches Requiem“, de Jorge Luis Borges, que compõe a obra O Aleph, publicada em 1949.
Diz Stotz:
Envio para vocês a cópia digital de uma pequena narrativa ficcional. Trata-se de “Deutsches Requiem“, de Jorge Luis Borges. Compõe a obra O Aleph, publicada em 1949, com epílogo escrito pelo autor em 3 de maio daquele ano. A edição usada é a da Companhia das Letras, de 2015, em sua 8a reimpressão. Ele situa as raízes ideológicas da extrema-direita no desfecho da II Guerra Mundial. A extrema-direita — que dominava o cenário mundial até então — retraiu-se e praticamente desapareceu durante os “anos dourados” do capitalismo.
Para entender a posição de Borges na narrativa faz-se necessário lembrar que os EUA destruíram Hiroshima e Nagasaki com o uso da bomba nuclear atômica para “obrigar” o Japão a se render. Eximiram-se da responsabilidade do genocídio mediante a instituição do Tribunal de Nuremberg que, entre 1945 e 1946, condenou à morte os principais dirigentes nazistas presos. Os criminosos japoneses tiveram um julgamento à parte, no Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente instituído em 1946 e concluído em 1948 praticamente nas mãos do governo norte-americano e que ou não investigou o agiu de modo deficiente face às atrocidades (inclusive guerra química e bacteriológica) cometidas pelo governo do Japão contra China e a Coréia. Os julgamentos dos crimes cometidos pela Alemanha nazista se desdobraram em diversos casos (médicos, juristas, empresas) até 1948.
A auto-exclusão dos EUA e o controle político da condenação dos crimes de guerra e contra a humanidade permitiram a este governo a utilização da ameaça nuclear como chantagem contra a União Soviética, até o momento em que este último país conseguiu detonar o seu próprio artefato (29 agosto 1949). Foi o período de maior tensão na “guerra fria” entre os dois países. Stanley Kubrick fez a denúncia no filme ” Dr. Strangelove or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb”, de 1964, exibido no Brasil sob o título de “Doutor Fantástico” (!) Aliás, o trailer está disponível em https://www.adorocinema.com/filmes/filme-680/
Mas, assim que, a partir dos anos 1970, o sistema capitalista entrou em crise, a extrema-direita reapareceu com barulho à luz do dia. Tornou-se em pouco tempo uma força expansiva que tomou contornos bem definidos no mundo no início do século XXI.
A meu ver, a extrema-direita sustenta-se no contexto de baixo crescimento (outro nome para depressão econômica) do capitalismo, da crise do assim chamado “globalismo” e da reemergência dos nacionalismos — tudo isso diante da situação de defensiva generalizada das forças do trabalho frente ao capital desde as últimas décadas.”