Não lembro a primeira vez que estive com Vito.
Mas sei que naquele dia ele me marcou.
Lembro-me de pensar:
“Que velhinho palavrudo”.
Vito poderia ser meu avô. Aliás, ambos morreram com a mesma idade.
Mas, meu avô, um dos homens mais fantástico que a memória me permite lembrar, não falava palavrões. Nunca.
O Vito falava. E muito.
Aos poucos entendi o porquê.
Vito era diferente. Vito era um trabalhador.
Não que meu avô não o fosse. De fato, era. E daqueles incansáveis. Trabalhava na rua e em casa.
Mas o Vito trabalhava pelos/as trabalhadores/as.
O Vito lutava pelos/as trabalhadores/as.
De tão lutador se fez jornalista.
Para com os/as trabalhadores/as dialogar.
De tão lutador se fez palavrudo.
Porque somente os palavrões podem adjetivar a exploração humana,
A desigualdade,
O preconceito,
A miséria,
O capital.
E de tão palavrudo, inconformado, indignado, se fez terno.
Porque é preciso “Endurecer, sem perder a ternura. Jamais.”
E assim, se fez extremamente radical.
E extremamente amoroso.
Porque a radicalidade e a ternura são complementares, e não antagônicas.
Ontem, Vito foi encontrar o meu avô.
Eu não era próxima a ele.
Por isso, não choro a morte de um amigo. Como fiz com meu avô.
Mas ele era próximo a mim.
Porque a indignação nos faz companheiros.
Por isso, hoje é dia de luto.
Mas, amanhã é dia de luta.
Pelo Vito, pelo meu avô,
Pelos trabalhadores e trabalhadoras,
Desse país tornado injusto.
Pelos trabalhadores e trabalhadoras
que morrem, sofrem, lutam, xingam e sorriem com ternura,
Como o Vito.
Vito Giannotti, presente!
Presente! Presente! Presente!
Sim Nathalia, Vito foi um Presente e Continuará Presente.
* Nathalia Faria é historiadora e professora da FEUC em Campo Grande RJ.