[Por Marco Zero] O papel da mídia na naturalização da violência contra a mulher foi tema de um cinedebate realizado ontem (24) no Centro Popular de Direitos Humanos (CPDH), no centro do Recife. O evento começou com a exibição do documentário Quem Matou Eloá?, dirigido por Livia Perez, que mostra o circo de horrores montado pela imprensa em outubro de 2008, durante o cativeiro de Eloá Cristina Pereira Pimentel e Nayara Silva, ambas com 15 anos, mantidas reféns por cinco dias pelo ex-namorado de Eloá, Lindemberg Fernandes Alves, de 22 anos, em um apartamento na cidade de Santo André, em São Paulo.
A “cobertura” incluiu entrevistas ao vivo com as vítimas e com o agressor, transmissões ininterruptas, inclusive com a revelação de detalhes da atuação da polícia que terminavam por atrapalhar as negociações, e o uso de estratégias narrativas ficcionais para transmitir o desfecho trágico que terminou com a morte de Eloá após uma operação mal sucedida da polícia paulista. Durante todo o tempo, o sequestrador era tratado como um rapaz apaixonado, movido por “amor” e inconformado pelo fim do relacionamento, ao ponto de um dos convidados de um desses programas da tarde dizer que esperava que o episódio de violência terminasse em “pizza” e com o casamento feliz entre vítima e agressor.
O episódio lamentável para o jornalismo brasileiro serviu como ponto de partida para o debate sobre o feminicídio, qualificação que deveria ser utilizada para o crime cometido contra Eloá, e não “crime passional”, como grande parte da mídia costuma chamar a violência de homens contra mulheres, cuja motivação é a condição feminina da vítima e o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre elas. O assassinato é o último ato da violência doméstica, que geralmente começa com manifestações de um relacionamento abusivo, que escala para agressões físicas e psicológicas e pode terminar com a morte de uma média de 13 mulheres por dia vítimas da violência doméstica no Brasil, segundo dados do Mapa da Violência divulgado em 2015.
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