Por Sérgio Domingues

Foi em 1940. Vargas se apossou da data e patrões e governo a mantiveram prisioneira até o final da década de 1980. Com o surgimento da CUT, o 1º de Maio voltou a representar a luta dos trabalhadores, mas os novos pelegos a ameaçam novamente.

A primeira vez em que se comemorou o 1º de Maio no Brasil foi em Santos, em 1895. Mas a primeira grande manifestação feita no Dia Internacional dos Trabalhadores aconteceu em 1907, na Praça da Sé, São Paulo. A polícia não fez por menos e reprimiu violentamente.

Tentativas de tomar o 1o de Maio vêem desde 1914

Em 1914, o governo e os patrões procuram transformar o 1º de Maio em feriado para esvaziar seu caráter de luta. Mas os anarquistas e os ainda poucos numerosos socialistas resistem. Em 1916, em plena guerra, o 1º de Maio transforma-se em protesto contra a guerra. “Paz entre nós, guerra aos senhores”, “Viva a Internacional!” Estas eram algumas das palavras-de-ordem.

Em 1919, a influência da revolução russa se faz presente

No Dia Internacional dos Trabalhadores, os manifestantes gritam “Viva a Revolução Soviética”, “Viva Lênin” e cantam a Internacional. Em 1924, nova tentativa de “desarmar” o 1ºde Maio. Arthur Bernardes decreta feriado nacional “… consagrando-se (a data) não mais a protestos subversivos, mas à glorificação do trabalho ordeiro”. Mas até 1935, o 1ºde Maio se mantém como data de protesto, sem patrões e sem governo. Nesse ano, entra em vigência a Lei de Segurança Nacional. Começa a operação de isolamento do movimento sindical combativo.

A propaganda é a alma do negócio fascista

Com a estrutura sindical oficial em pleno funcionamento, os sindicatos sob controle governamental oferecem algumas leis trabalhistas (férias) em troca de filiação a seus quadros e o abandono dos antigos sindicatos combativos. Além disso, o governo Getúlio aprendeu com os métodos de propaganda fascistas. Já em 1931, é criado o Departamento Oficial de Propaganda (DOP). Mas o tristemente famoso Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) só surgiria sob o Estado Novo, em 1939.

Em 1937, o movimento sindical independente que já vinha sendo isolado pela chantagem trabalhista é definitivamente esmagado pelo golpe do Estado Novo, com prisões, tortura e morte de milhares. Na condição de ditador assumido, Vargas aproveita a situação de defensiva dos trabalhadores para criar, usar e abusar do DIP. Combina repressão com lavagem mental em massa, através do rádio e de jornais. Os jornais A Manhã e A Noite são encampados, assim como a Rádio Nacional. Viram instrumentos de publicidade totalmente controlados pelo Estado.

Governo e patrões finalmente prontos para o seqüestro

Agora, finalmente, o governo e os patrões já têm condições de seqüestrar o 1ºde Maio dos trabalhadores. Isso acontece em 1940. Com o movimento sindical independente de joelhos e com os pelegos em sua folha de pagamentos, o governo Getúlio passará a comemorar o 1ºde Maio junto com os trabalhadores. Principalmente, no estádio do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, lugar de reunião popular por excelência.

O seqüestro só vai ser relaxado com a deposição de Vargas, mas a data continua refém do populismo. Mesmo nos períodos de muitas greves ou de luta radical, os vários governos até 1964 continuam usando o Dia Internacional dos Trabalhadores para anunciar medidas demagógicas. E, infelizmente, até mesmo setores mais comprometidos com os trabalhadores, como o PCB, PSB, UNE, CGT, não conseguem retomar totalmente o caráter do 1ºde Maio como data de luta dos trabalhadores, sem a intromissão de patrões e governo.

Com a ditadura militar, o 1ºde Maio volta a seu cativeiro

Algumas manifestações corajosas são realizadas como em 1968, mas são esmagadas a ferro e fogo. Somente no final dos anos 80, com a retomada das lutas e o surgimento do sindicalismo combativo, o 1ºde Maio é arrancado das garras da ditadura e seus apoiadores.

Saída do cativeiro, a data está agora ameaçada pelo novos pelegos da Força Sindical

Desde então, o 1ºde Maio voltou a ser uma data dos trabalhadores. Mas com a chegada do neoliberalismo a partir de Collor, um novo sindicalismo pelego procura colocar suas garras para fora. A Força Sindical vem usando a data para promover sorteios e shows financiados por grandes empresas e apoiados oficialmente. Nada mais do que uma nova tentativa de aprisionar a data para usá-la para envolver e enfraquecer a luta dos trabalhadores.

A CUT vem tentando manter sua tradição de fazer 1os de Maio combativos e independentes de patrões e do governo. Mas é cada vez maior o cerco da grande imprensa, que procura impor o comparecimento às manifestações/shows como medida da capacidade de mobilização das centrais. Um jogo que não podemos aceitar. Do contrário, não serão eles a seqüestrar o 1ºde Maio. Seremos nós a entregar essa data histórica da luta dos trabalhadores a nossos inimigos.