[Por Euro Mascarenhas/NPC*] O Professor Waldir Rampinelli foi o quarto entrevistado da atual temporada do Quintas Resistentes. Especialista em estudos latino-americanos, o historiado e cientista social trouxe o seu conhecimento para fazer um balanço sobre a trajetória de lutas do continente e a sua atual conjuntura. O programa foi ao ar no dia 31 de março, data que marca o golpe militar de 1964 no Brasil, sobre este episódio Rampinelli afirmou: “ele foi gestado, trabalhado e planejado em Washington”.

América Latina: um caldeirão em ebulição

Desde que países os europeus iniciaram o processo de colonização do continente latino-americano, o território passou a ser, nas palavras do Professor Waldir, “um caldeirão em ebulição”. Ele destacou a dialética entre fazer desenvolver os colonizadores em detrimento do subdesenvolvimento dos colonizados. “Durante os 300 anos de colonialismo, que serviu para levar o nosso excedente econômico à Europa, nós tivemos revoltas, rebeliões e revoluções. Quem primeiro se levantou contra os europeus foram os indígenas”, afirmou.

Muito embora a América Latina tenha tido essa série de levantes, todos foram revertidos. A única exceção foi a revolução cubana, que mereceu destaque do Professor. “Se você pegar somente o século XX, nós tivemos a revolução mexicana em 1910, guatemalteca em 1944, boliviana em 1952, cubana em 1959, chilena em 1970, nicaraguense em 1979. Todas foram vencidas, derrotadas ou comidas desde dentro, só a cubana está firme e forte. Por quê? Esta é a pergunta que a gente tem que fazer”, questionou Rampinelli.

Para ele, a revolução de Cuba foi um evento que veio de longe, ela é fruto da insatisfação de grupos do país que já haviam se incomodado com o processo de independência em 1898, uma independência que dava poderes aos Estados Unidos como país interventor em algumas situações, como no caso de greves. “O que os cubanos vão fazer, você tinha os entreguistas, mas também tinha os estudantes, intelectuais e camponeses que diziam: essa nossa independência é uma vergonha, e começam a lutar, a escrever contra o imperialismo, a se organizar contra o imperialismo. E todo esse processo vai desencadear em 1959”, afirmou.

Brasil x América Latina

Uma questão que foi trazida para debate foi a relação do Brasil com o restante dos vizinhos latino-americanos, quando se tem a impressão de que não há uma noção de pertencimento ao território. Rampinelli confirma esta impressão ao dizer que o país sempre ficou de costas não só para os países latino-americanos, mas também para os africanos. Ele cita um evento histórico para ajudar na compreensão deste descompasso que existe: “quando Simon Bolivar movimentava as colônias hispânicas dentro de guerras e revoluções de independência, o Brasil ameaçava fazer acordo com a Santa Aliança, um grupo de países europeus conservadores. O objetivo era fazer com que a Santa Aliança entrasse no Brasil e do Brasil acabasse com o gérmen da revolução”. Rampinelli também aproveitou para criticar a subserviência da classe dominante do Brasil e demais países ao interesses norte-americanos, e também o olhar que busca nos norte-americanos um modelo de vida e político a ser seguido. “Imagina você querer a democracia dos Estados Unidos? Não tem nada de democrático lá! Lá predomina o Capital, olha o racismo. Mesmo durante o governo do Barack Obama o racismo aumentou. Então, este é um país que não tem absolutamente nada a nos ensinar”.

*Euro Mascarenhas faz parte da Rede de Comunicadores do NPC.