Há 15 anos, moradores do bairro de Vista Alegre, São Paulo, têm a alegria de acompanhar de pertinho a mais antiga rádio do local, a “Cantareira”, que faz parte da Associação Cantareira. O padre Cilto José, um dos idealizadores da rádio, foi palestrante do 16° Curso Anual do NPC. Nessa entrevista ele fala sobre o funcionamento deste meio comunitário, o tempo em que ficou parado por causa da falta de licença para funcionar, a dedicação e carinho que a população tem pela emissora, dentre outras coisas. Acompanhe:

Por Gizele Martins

Quando e como a “Rádio Cantareira” começou?
Iniciamos em 1995, em Vista Alegre, São Paulo. Lá é um bairro muito semelhante aos morros e favelas aqui do Rio, é formado por uma população pobre, eu moro próximo de lá. Sempre pensamos em alguma forma de se comunicar com aquela população. Daí, discutimos a possibilidade de fazer uma rádio comunitária. Perguntamos aos moradores de lá se eles queriam. No primeiro momento, eles achavam que a ideia de ter uma rádio era algo distante de ser realidade. Fizemos um grupo e pesquisamos outras emissoras para ter algum tipo de exemplo, fizemos um mutirão e resolvemos iniciar a rádio. E ela nasceu no dia 8 de dezembro de 95.
 
Quantas pessoas estão envolvidas no trabalho da rádio?
Há aproximadamente quarenta pessoas envolvidas neste trabalho, e são todos voluntários. A programação é diária, a FM vai das 6h às 23h, e a web é o dia inteiro. A “Cantareira” é uma organização que aglomera diversos outros projetos.
 
Fale um pouco sobre a programação, como ela é feita e por quem ela é feita?
Nos primeiros programas tínhamos muito medo do que falar, do que fazer. Os programas sempre foram feitos por equipes. A nossa bandeira de luta dentro daquela rádio comunitária é sempre pela busca do direito à democratização da comunicação.
 
E o conteúdo, quais os cuidados que se deve tomar num meio comunitário?
Há uma preocupação com a linguagem. Num meio de comunicação comunitário ou em qualquer outro não pode existir homofobia, racismo, dentre outros preconceitos. Mas a comunicação comunitária é diferente dos outros meios de comunicação, tratamos sempre os assuntos com outro olhar, com outra abordagem, é mais humano. E, por isso, é diferente, e temos que fazer sempre o diferente.
 
Como é a participação da população local na rádio, vocês têm ideia do alcance, quantas pessoas ouvem a rádio?
Durante o tempo em que a rádio ficou fechada sentimos a tristeza da comunidade. Com a rádio,o povo pode dizer o que quer, a rádio é deles, podem divulgar os seus eventos. É só ligar, ir lá, participar, dialogar, entreter. Certa vez, uma senhora, por exemplo, ligou, fez uma reportagem, disse que tinha um problema e a gente ligou para a subprefeitura. Mas não foi a rádio que resolveu o problema, foi o povo que utilizou a rádio para resolver os seus problemas. São alcançadas mais de 200 mil pessoas, agora em relação à web não sabemos a quantidade. São muitas ligações, em uma hora, por exemplo, temos pelo menos uma média de 12 pessoas ligando, participando.
 
Por que a rádio ficou fechada durante cinco anos?
Ficamos quase cinco anos com a rádio fechada porque não tínhamos licença para funcionar. Ela foi perseguida durante todo esse tempo. Mas lutamos pela regulamentação dela, e conseguimos no ano passado a outorga.
 
Fale também sobre as diferenças em termos de técnicas que as rádios e todos os outros meios de comunicação sofreram nestes últimos anos:
A rádio mudou, antes tocávamos músicas em LP. Era bem mais fácil. Não é por acaso que dentro deste mesmo espaço da Associação Cantareira são realizados outros cursos: de locução, de gravação, de redação, dentre outros módulos. Mas a rádio, e os outros meios de comunicação estão com certeza muito modernos.

Para quem quiser conhecer mais sobre esta experiência comunitária: www.cantareira.org