A ONG VivaRio, que tem um projeto belíssimo e extremamente atuante chamado VivaFavela, decidiu reproduzir os programas da Rede Globo nas rádios comunitários do projeto citado, como eu havia noticiado antes, com informações do Centro de Mídia Independente e do próprio VivaRio.
Sou eu que estou maluco, ou o sentido da rádio comunitária se perdeu completamente? Na minha visão, rádios comunitárias têm duas funções muito importantes (não apenas, é claro, mas também):
1. Ampliar a diversidade da mídia.
2. Fortalecer uma comunidade com programas locais, feitos por e dirigidos para a própria comunidade. A própria Anatel, que possui diversos erros e persegue muitas rádios comunitárias, fala neste conceito do local.
Estamos falando, no entanto, da reprodução de programas da maior empresa de comunicação do país (que no RJ é maior ainda) nas citadas rádios. E tem mais: não estamos falando de programas como Globo Ecologia ou os da TV Futura (que pertence à Fundação Roberto Marinho e que permite, como se sabe, que o IR da empresa seja menor do que o IR pago por um único contribuinte), e sim daqueles que tem grande audiência, como Zorra Total, Vídeo Show e Xuxa no Mundo da Imaginação.
De que forma isso ajuda para a diversidade cultural? Qual será o benefício de se ter nas rádios locais, que destacadamente possuem muito alcance dentro das respectivas comunidades, de se ter curiosidades sobre as novelas e programas da Globo no VideoShow, ou as vinculações do programa da Xuxa.
Aliás, o programa Zorra Total é, juntamente com a Xuxa, um dos programas citadas no relatório federal Ética na TV [link no final], pelas reclamações que foram recebidas por meio do 0800.
Respeito e prezo muito esta belíssima resistência que é o VivaFavela, porém ainda não entendi qual o conteúdo positivo desta parceria. Trata-se, ao meu ver, de uma belíssima vitória do senhor Roberto Marinho e de seus filhos para perpetuar a influência já assustadora da rede no Rio de Janeiro.
(Por Gustavo Barreto)