Por Sérgio Domingues 
Entre as muitas lições das manifestações populares que vêm chacoalhando o País, está a de que vivemos sob uma verdadeira ditadura da grande mídia. O jornalismo empresarial faz uma cobertura dos acontecimentos que é tendenciosa, criminaliza os movimentos sociais, omite, mente, esconde, distorce. Causa na esfera da informação estrago equivalente ao provocado por balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo nas ruas.

Um exemplo é a cobertura jornalística dos protestos que acabaram em depredação de lojas e bancos no Leblon. A gritaria que a grande imprensa fez só é comparável com o silêncio com que tratou a morte de dez pessoas na favela da Maré, vinte dias antes. O grande patrimônio de uma dúzia de pessoas colocado acima de vidas humanas.

Não estamos vivendo sob uma ditadura política. Não se pode dizer o mesmo quanto ao direito à informação, que está soterrado sob o peso de grandes monopólios. Felizmente do nosso lado, temos a cobertura feita por centenas de jornalistas alternativos com suas microcâmeras e celulares. Desmascarando a mídia empresarial em blogs, redes virtuais, rádios e jornais comunitários e sindicais. No asfalto e nas comunidades.

Essas mulheres e homens heroicos e comprometidos com as lutas populares desempenham um papel fundamental. Um exemplo claro foi o caso do molotov atirado em policiais nas manifestações do dia 22/07. As imagens da mídia alternativa mostraram que o artefato foi atirado por um policial infiltrado. É isso que torna essa verdadeira guerrilha da informação tão odiada pelas forças da repressão e governantes de plantão.
Sob uma ditadura política, a luta popular aberta contra os poderosos é desigual e dificilmente escapa à derrota. Daí, a necessidade de ações pequenas, eficientes e que ajudem a acumular forças para um momento favorável.
Do mesmo modo, enquanto durar a ditadura midiática, teremos que nos limitar às escaramuças pontuais e estratégicas. Acumular forças e reunir condições para travar o grande combate: o fim do monopólio das comunicações. Mas este só será vitorioso se deixarmos para trás aqueles que vacilam entre a covardia e a cumplicidade em relação aos poderosos da mídia.
O apoio a governos progressistas, ou que pretendem sê-lo, é possível. Muitas vezes, pode ser necessário. A pressão sobre parlamentares, também. Mas é imprescindível evitar a dependência em relação aos “poderes constituídos”, sempre embaraçados nas cordas que atam o Estado ao grande capital. Nossas lutas têm que ser travadas principalmente nas ruas, com câmeras, gravadores e muita disposição.

 

Julho de 2013