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“Quando eu era criança, muitas foram as humilhações às quais fui submetida. Tanto pela minha cor da pele, como pelos meus traços físicos: lábios grossos, testa grande, etc. Sofri muito com tudo o que ocorria na rua em que morava e na escola em que estudava, inclusive por parte de uma professora. Depois de denunciar muitas vezes aos meus familiares algumas dessas situações sem ter uma resolução do problema, que não dependia mesmo deles, resolvi sofrer calada. Em virtude disso desenvolvi, desde criança, a fama de dramática. Isso era a minha depressão mostrando uma pequena parte de sua face mais cruel.

Hoje, após 15 anos disso tudo, tive que ouvir de uma criança: sua filha não pode brincar porque é preta. Ao olhar os olhos da minha princesa, que refletia muita tristeza e constrangimento, revivi a mesma dor de 15 anos atrás. E me vi perdida. Como reagir? Como fazer com que a situação seja o menos traumática possível?

Pois é. Ser mãe de uma criança negra num país racista como esse não é tarefa nada fácil. O que eu fiz foi me sentar no chão em meio as outras crianças e dizer: Leticia irá brincar. E eu também vou. Nesse momento a criança em questão se retirou e minha rainha black, Leticia, continuou a brincar com seus coleguinhas, fortalecendo sua consciência sobre o que significa ser uma menina negra, onde até brincar pode se tornar um desafio. Enquanto eu, sua mãe, fazia as pazes com aquela infância roubada pelo racismo.