[Por Marina Valente, jornalista sindical da Metamorfose Comunicação e apresentadora do programa Democracia no Ar] O golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) e as consequências como o desmonte dos direitos trabalhistas e das empresas públicas, trouxe para o movimento progressista a necessidade da crítica e da autocrítica. Ferramentas importantes para o crescimento e evolução da luta popular.

Porém, talvez pela contaminação dos valores burgueses e pela burocracia instalada em nossas estruturas, a crítica e a autocrítica seguem sendo feitas, de forma mais frequente do que deveria, por um processo de leve autocrítica e de crítica ferrenha e pouco pedagógica da ação dos demais.

 

Na comunicação sindical, isso se reverte em um uma crítica ácida e pouco objetiva que finaliza quase sempre na listagem infinita do que poderíamos e podemos ser.

Não há autocrítica sobre a baixa qualidade da estrutura oferecida para se realizar os processos de comunicação, nem a postura de muitos dirigentes sindicais em relação aos seus profissionais, a não priorização da comunicação na estrutura entidade,  a má vontade para o tempo da comunicação e a mania de transformar os materiais em propaganda personalista ou de “ dar pitaco” no que “se não entende achando que entende”.

 

Mas a pior autocrítica que não é feita está relacionada ao abandono do estudo teórico da comunicação. Quanto de nossos dirigentes bradam sobre os efeitos nefastos da Rede Globo, mas jamais sequer ouviram falar da Escola de Frankfurt?

 

A situação pode ainda se agravar com a recente leva de demissões de jornalistas sindicais. Muitos deles inclusive, com larga experiência e dedicados ao estudo dessas soluções. Isso significa que mais uma vez a comunicação embora reforçada no discurso, não ocupa o principal conjunto de preocupações de nossas lideranças.

 

Esse abandono permite que deixemos de nos preocupar sobre como realizar o combate ao discurso hegemônico. Discurso este que é diretamente responsável pela criação de uma cultura hegemônica, daquelas que deixa muito trabalhador falando de “meritocracia”, “bandido bom é bandido morto” e ‘sindicalista é vagabundo”.

 

E com isso o capital vai se apropriando de tudo, até da nossa luta! O que diremos dos programas feministas globais que tratam de um feminismo que vende produtos e é tão ralo quanto um “caldo de bila”?

 

Enquanto isso me deparo com dirigentes querendo panfletar sobre reforma trabalhista em uma feira.

 

UMA FEIRA! Sim, aquele lugar cheio de trabalhadores sem carteira assinada que muitas vezes precarizam até a família para poder sobreviver. Eles não estão interessados em falar de direitos que não possuem.

 

E se o dirigente ainda assim, encontrar entre os consumidores da feira alguma simpatia a causa, ela poderia ser facilmente desfeita pelo mesmo feirante pronto para conversar e falar sobre as agruras de ser um trabalhador que é um “cidadão de bem”.

 

Claro que estou generalizando. Mas não podemos seguir nadando contra a corrente desta forma. Não seria mais fácil panfletar nesta mesma feira sobre o aumento absurdo do preço do gás?

 

E neste momento, o correto funcionamento de nossa comunicação é mais do que necessário. É preciso saber por exemplo, que o capital tem moldado não apenas novas relações de exploração com o aumento significativo do precariado, como também as relações humanas. Vivemos uma era onde até mesmo nossas relações amorosas são terceirizadas através de agências de relacionamento e a amizade passa pela prova de um Facebook.

 

Um bom jornalista, com larga experiência de comunicação sindical e dedicado a compreender a teoria identificaria isso. Mas eles estão se tornado profissionais raros, e em breve os teremos trabalhado para o capital que buscávamos combater.