Por Renato Kress em 12/05/2010

A situação é a seguinte: A (auto-intitulada) revista VEJA, mais uma vez, inventa uma declaração e coloca, à revelia, o nome de uma autoridade respeitável sobre o assunto querendo validar seu ponto de vista a qualquer custo. Não esperava a revista que o citado especialista, o renomado antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, fosse rechaçar a tal revista junto com a declaracão fictícia tão embaraçosamente.

A declaração, elegante, sucinta e direta circulou pelas vias digitais através, principalmente, do microblog Twitter. Até aí, ótimo, a falta de vergonha dos editores da revista e a mentalidade truculenta e rasteira do Grupo Civita simplesmente nunca mais divulgaria o nome do antropólogo em suas páginas. O que poderia ser até um elogio indireto ao colega Eduardo (bem, eu compreenderia dessa forma e agradeceria). 

Leitura consciente

A matéria segue o manual prático de redação do compêndio: Definir o ponto em que quer chegar, as conclusões que são aceitas pelos grupos de interesse que financiam a revista e, a partir do final, seguir criando argumentos silogísticos que só façam sentido porque já se definiu onde se quer chegar.

Até aí ótimo, já passei da fase de querer “libertar” as pessoas das garras do pensamento único da VEJA, somos todos adultos e creio que quem dá crédito a esse tipo de publicação deve, no mínimo, sustentar (financeiramente) sua crença. Quem lê VEJA deve ter grana suficiente para conseguir comprar de volta a matéria em que ela o ataca.

Quem defende o neoliberalismo informativo subvencionado por grandes empresas e grupos de interesse deve, no mínimo, ter mais grana que eles, para que a sua opinião saia com mais destaque que a de seus possíveis críticos. Leia VEJA sem problemas, até sem escrúpulos, mas saiba o que você está lendo!

Showrnalismo truculento e burro
(matéria do Portal Imprensa, na íntegra)

O jornalista Felipe Milanez, editor da revista National Geographic Brasil, licenciada pela editora Abril (Grupo Civita), foi demitido nesta terça-feira (11) por ter criticado via Twitter a maior publicação da casa, a revista Veja. Milanez, na National desde outubro de 2008, publicou, em seu perfil no microblog, comentários a respeito da reportagem “A farsa da nação indígena”, veiculada na última edição da revista. “Veja vomita mais ranso racista x indios, agora na Bolivia. Como pode ser tão escrota depois desse seculo de holocausto? (sic)”, escreveu em post no último domingo (9).
Em mensagem no mesmo dia, Milanez complementou dizendo que ignorava a Veja, mas “racismo” da publicação fez com que se manifestasse. “Eu costumava ignorar a idiota Veja. Mas esse racismo recente tem me feito sentir mal. É como verem um filme da Guerra torcendo pros nazistas (sic)”.
Em entrevista ao Portal IMPRENSA, Milanez admitiu que fez observações contundentes sobre a publicação, mas que foi surpreendido pela demissão. “Fui bem duro, fiz comentários duros, mas como pessoa; não como jornalista. Fiquei pessoalmente ofendido [com a reportagem]. Mas estou chateado por ter saído assim. Algumas frases no Twitter acabaram com uma porrada de projetos”, lamentou o ex-editor.
A decisão de demitir o jornalista, segundo ele, teria vindo diretamente de setores da Editora Abril ligados à revista Veja e repassada aos responsáveis pela National Geographic. “Não sei quem decidiu e como”, disse.
O redator-chefe da National, Matthew Shirts, confirmou à reportagem que Milanez foi demitido pelos comentários no Twitter. “Foi demitido por comentário do Twitter com críticas pesadas à revista. A Editora Abril paga o salário dele e tomou a decisão”, disse.
Ao ser questionado se concordava com a demissão do jornalista, Shirts declarou que “fez o que tinha que fazer exercendo a função”.

Surpresa? Que surpresa?

Não entendo qual teria sido a “surpresa” na atitude da revista VEJA. O Grupo Civita há mais de uma década vendeu cada linha, vírgula e inflexão que sai em sua revista para os interesses do capital mais rápido no gatilho em molhar suas mãos, seja para construir matérias que defendam a opinião de seus cafetões ideológicos, seja para evitar que matérias de gaveta sejam usadas como chantagens contra personalidades políticas ou públicas.
 
O que é a VEJA?

Há anos quem acompanha os ditames dos todos poderosos FMI e BIRD (Banco Mundial) sabe que o prazo médio de quebra de um país após seguir suas “sugestões econômicas” neoliberais é de 3 a 5 anos, dependendo da estrutura interna e da alocação dos recursos estratégicos desse país.

A VEJA, como tudo o que é excretado pelo Grupo Civita, só é o braço neoliberalizante, flexibilizante e neocriminoso dos grupos financeiros que se locupletam com essa sem-vergonhice financeira e social internacional. Eles são os maiores reprodutores do que se denomina “Pensamento único” neoliberal, que proclama que já ocorreu o “fim da história” (Francis Fukuyama) simplesmente porque já encontramos “O Melhor dos mundos Possíveis” (pergunto: Para quem?). Obviamente para os seus cafetões internacionais e nacionais.
 
Perda da inocência

Depois de um tempo não creio mais em inocência nesse caso. Nem da parte do repórter, nem da parte da revista (se é que se pode chamar esse compêndio comercial de ideologias de revista). A VEJA comunga – como todo o Grupo Civita – da rasteira mentalidade de um George Bush “Ou você está conosco, ou está contra nós”, alimentando um maniqueismo no qual obviamente não acreditam, mas que é necessário a que o fluxo de capital continue jorrando em seus bolsos.
 
É uma mentalidade utilitária e nada mais. Quem serve aos meus patrões-patrocinadores-cafetões é meu amiguinho, quem não serve é meu inimiguinho. Quem me critica é demitido porque não tenho maturidade (e muito menos argumentos, que não seja o argumento do poder, puro, truculento e simples) para lidar com críticas.
 
De mais a mais, boa sorte sr. repórter. Que encontre patrões melhores ou escolha melhor seus patrões…
 
Boa sorte.

(*) Renato Kress (@renatokress) é sociólogo e escritor. Coordenador geral e fundador da Revista Consciência.Net.