[Por Marina Schneider] Entre os dias 9 e 11 de agosto de 2010, os candidatos à Presidência Dilma Rousseff, do PT, Marina Silva, do PV, e José Serra, do PSDB, foram entrevistados na bancada do Jornal Nacional pelos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes. De acordo com o site da agência Meio & Mensagem, as entrevistas tiveram média de 31,3 pontos no Ibope, o que equivale a mais de 1,8 milhão de domicílios com uma televisão ligada na Globo no horário apenas na Grande São Paulo.
O candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, que não atendia ao critério estabelecido pelo JN de atingir pelo menos 3 pontos percentuais nas pesquisa do Datafolha e do Ibope anteriores, concedeu entrevista ao repórter Tonico Ferreira fora do estúdio, no dia 12. As entrevistas feitas na bancada do telejornal duraram 12 minutos e a de Plínio teve pouco mais de quatro minutos.
Sobre o critério de seleção do Jornal Nacional para participar da série de entrevistas, o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-Rio, Ricardo Ismael, avalia que o percentual de 3% nas intenções de voto não é muito elevado, mas que, no início da corrida eleitoral, pode ser questionado pelos candidatos menos conhecidos. “Talvez fosse melhor ter dois critérios: entrevista de 12 minutos e ao vivo para os candidatos com pelo menos de 3% nas pesquisas do Datafolha e do Ibope e entrevista gravada de 4 minutos com os demais candidatos, como aconteceu com Plínio.
Sem espaço para programa de governo
Os entrevistadores focaram na personalidade e em possíveis contradições na trajetória política de cada um dos candidatos. Ficou de fora a exposição de ideias sobre programas de governo. Essa opção do telejornal veio acompanhada de uma forma de tratamento diferente dada aos presidenciáveis.
Para a professora do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio e coordenadora da TV PUC, Carmem Petitit, “no caso de Dilma, Bonner perdeu o rumo da conversa e interrompeu a candidata de forma irônica em três momentos específicos: quando comentou uma declaração do presidente Lula sobre a fama da ex-ministra de maltratar políticos, quando perguntou sobre os erros do PT e quando questionou o crescimento econômico brasileiro diante de outros países”.
De acordo com a professora, nas entrevistas com Serra e Marina não houve esse tipo de confrontação e as entrevistas foram menos tensas. “No caso de Dilma, a interrupção de Fátima Bernardes diante da insistência de Bonner em confrontar informações sedimentou a ideia de que algo havia extrapolado o limite do razoável”, avalia. Para Carmem, a natureza superficial das perguntas fez com que, mesmo com o grande alcance do Jornal Nacional, as entrevistas não tenham causado muito impacto sobre a opinião do eleitor. “Apenas reforçaram o que cada um já pensava. Uma pena porque, mais uma vez, se desperdiçou o debate de ideias”, completa.