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Até o acampamento que a rede municipal fez na calçada da câmara, eu nunca tinha visto seu rosto. Nunca o vi nas reuniões do meu partido, do meu sindicato, nada. Mas ele apareceu lá no acampamento, ofereceu ajuda, convidou para participar do debate que iria ocorrer no acampamento “vizinho”. Chegou a oferecer a sua barraca para os professores que não estavam preparados para passar aquela madrugada fria lá na Cinelândia.

Dias depois eu o reencontrei na Alerj. Foi lá prestar solidariedade aos profissionais da educação da rede estadual. Se apresentou como Bruno e cantou um funk onde criticava o governo estadual.

Seu corpo franzino e a pele negra me faziam lembrar os capitães de areia. Taí, ele poderia ser o Pedro Bala. Ou o Dom Quixote do centro do RJ. A partir daí passei a reconhecê-lo, lado a lado, nas ruas. Bruno poderia ser meu aluno, ou meu parente. E agora eu, a caminho, do trabalho, não consigo parar de pensar nesse companheiro, que está preso, porque ousou estar nas ruas lutando também para me defender. Bruno não me conhece. E por isso talvez não saiba a lição que está me dando. – Lidiane Lobo (professora)