Por Gizele Martins
Já era fim de tarde quando moradores e moradoras tomaram algumas ruas, ocuparam o asfalto e foram cobrar, gritar por direitos, tais direitos que nunca tiveram. Mas, como sempre acontece, estes moradorxs foram silenciados, calados, jogados para dentro da favela a base de muito tiro, tiro este que não era de borracha, era de fuzil.
Tais balas atravessaram o corpo de mais de 10 moradores e moradoras daquela favela por uma noite inteira. Foi noite de terror, foi noite de lágrimas de sangue, noite em que favelados e faveladas eram arrancados de suas casas e foram exterminados, executados, era a chacina da Maré.
Hoje, a Maré, este chão que é construção nossa, só tem piorado, somos hoje a favela que está invadida mais uma vez pelas forças militares. Temos um soldado para cada 55 moradores, mas não temos um médico, um professor, um gari para cada 55 moradores. Triste realidade! Mas nossa força não tem fim!
Amanheceu, e tudo estava fora da normalidade, só ouvíamos tiros, tudo fechado, tudo literalmente silenciado, fomos às ruas, encontramos algumas pessoas com medo, muito medo. O que ouvíamos era: Acabaram de matar mais um ali.
Nada era mentira, tudo era verdade, uma verdade que jamais queríamos ter visto. Nos encorajamos e tomamos as ruas da Maré, favela que é nossa, território nosso, identidade nossa, construção nossa, tomamos as ruas e caminhamos por becos e vielas dela, eramos crianças, adolescentes, jovens, adultos, mães, pais, senhoras, eramos mareenses querendo gritar contra toda a opressão que estávamos vendo ali, era tão claro a tamanha brutalidade, tão difícil enfrentar tamanha realidade.
Corríamos e gritávamos contra a opressão, corríamos e gritávamos contra o caveirão, corríamos a gritávamos com nossas armas – o grito e o cartaz nas mãos. Corríamos e gritávamos que ‘expulsamos o caveirão!’ Foi simbólico a saída do caveirão, pois foi ele que por mais uma noite nos matou, foi ele que por mais um dia estava nos assassinando. Foi ele – com total permissão do Estado e apoio da sociedade – que por mais uma vez colocou nas costas do favelado a culpa por existir!
Hoje, a Maré, este chão que é construção nossa, só tem piorado, somos hoje a favela que está invadida mais uma vez pelas forças militares. Temos um soldado para cada 55 moradores, mas não temos um médico, um professor, um gari para cada 55 moradores. Triste realidade! Mas nossa força não tem fim!
Nosso grito continua,nossa voz não será silenciada nunca, nossa revolta só faz crescer nossa luta! As favelas Resistem! Continuaremos lutando sempre contra o extermínio de negros, pobres e favelados!
Nós não esqueceremos!