[RedaçãoBrasil de Fato | São Paulo (SP)] Os vereadores de São Miguel do Oeste (SC) cassaram neste sábado (4) o mandato da vereadora Maria Tereza Capra (PT) após ela denunciar nas redes sociais uma suposta saudação nazista feita por bolsonaristas no bloqueio de uma estrada do município, em 2 de novembro de 2022.

No trecho do vídeo comentado pela vereadora, as centenas de pessoas aparecem com o braços direito erguidos, em gesto semelhante à saudação nazista “Sieg Heil”, espécie de reverência no regime de Adolf Hitler (1889-1945).

A justificativa que consta no relatório da Comissão de Inquérito é que houve suposta “quebra de decoro parlamentar” por parte de Capra, ao publicar o vídeo denunciando o gesto nazista em frente ao 14º Regimento de Cavalaria Mecanizado, base do Exército na cidade, dois dias após a vitória de Lula. Os golpistas questionavam o resultado das eleições.

Segundo a acusação, Capra teria “propagado notícias falsas e atribuído aos cidadãos de São Miguel do Oeste o crime de saudar o nazismo e de ser berço de uma célula neonazista”.

Um dia seguinte à manifestação, os vereadores escreveram uma moção de repúdio à denúncia de Capra. A parlamentar vem sofrendo ameaças nas redes sociais desde novembro.

“Violaram meu patrimônio. O meu carro foi riscado com ameaças, escreveram no meu carro”, disse ela em entrevista ao Brasil de Fato, na época.

Na entrevista, a petista alertou para o potencial violento de alguns grupos organizados no estado. “Está comprovado que em Santa Catarina está o maior número de células neonazistas no país e eles estão armados.”

“É um pedido injusto e é uma orquestração de algumas pessoas aqui da cidade. Estão querendo me responsabilizar por algo que eu não fiz. Eu apenas manifestei meu repúdio e publiquei um vídeo em minhas redes sociais”, afirmou a parlamentar em novembro.

O Ministério Público do estado concluiu que o gesto não se tratava se saudação nazista: os braços dos manifestantes estariam estendidos porque o locutor do evento tinha pedido que as pessoas colocassem a mão sobre o ombro da pessoa à frente, e estendessem os braços para emanar energias positivas.  

Confira o vídeo que mostra o gesto dos manifestantes!

Perseguição política

Sérgio Graziano, advogado de defesa de Capra, disse ao Portal UOL que o processo é de perseguição política. “Não há qualquer fato jurídico, político ou social que justifique a cassação. Em 31 anos do exercício da advocacia nunca vi tamanha injustiça”, declarou

A defesa também alegou que a Comissão de Inquérito Parlamentar teria decidido de forma arbitrária e contraditória, e que não haveria comprovação de quebra de decoro parlamentar.

“Além de tudo, esses manifestantes ainda fizeram uma saudação nazista. Ergueram a mão naquela posição. Isso é repetir algum dos momentos mais dramáticos. Eu diria o pior drama que a população mundial viveu, que foi o nazismo. Milhões de judeus, milhões de pessoas foram mortas em nome de uma melhoria de raça”, escreveu Capra na publicação que a levou à cassação.

“Santa Catarina é o berço da célula neonazista desse país. São Miguel do Oeste acabou de ser identificada uma célula neonazista. E aquelas pessoas, vestindo as cores da nossa bandeira verde e amarelo, manifestando em frente ao quartel do Exército nas barbas das autoridades. E ainda fazem trancando uma rodovia federal. Ainda fazem uma saudação nazista”, completou.

No fim da tarde deste sábado (4), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania publicou uma nota em apoio a vereadora, destacando que Maria Teresa “tem sido atendida no âmbito do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas, e está sendo monitorada pela equipe federal, que adotou medidas emergenciais no intuito de mantê-la em segurança”. A nota é assinada pelo ministro Sílvio Almeida.