Os bancários e bancárias de todo o País fizeram uma manifestação diferente. No dia 14 de agosto, eles promoveram o Dia do Vermelho, marcando o início das negociações salariais com os banqueiros para renovação do acordo coletivo da categoria, que tem data-base
O Dia do Vermelho quis mostrar que a categoria está “vermelha” de raiva. Apesar de ser um dos únicos setores a bater recordes de lucros, em meio à crise econômica por que passa o país, os bancos são péssimos patrões. Os bancários acumulam problemas, desde salário arrochado até pressão por metas, assédio moral e redução do quadro funcional das agências.
Em Santos, o Dia do Vermelho foi além. A diretoria do sindicato dos bancários da região aproveitou para resgatar a história de luta da cidade, que já foi conhecida como Porto Vermelho e pequena Barcelona, além de ter sido a vanguarda na luta contra a escravidão.
Com bandeiras, balões e muitos metros de panos, os bancários “tingiram” de vermelho uma das praças mais famosas, a Praça Mauá, que fica no centro de Santos. Mas não é apenas a cidade que tem vocação de luta, os bancários da região também.
Uma vocação que começou bem cedo
Em 1932, mais precisamente no dia 18 de abril, acontece a primeira greve de bancários no Brasil. Os funcionários do Banco do Estado de São Paulo, sucursal de Santos, cruzam os braços. Reivindicações: gratificações semestrais no valor de três salários, fim das demissões de funcionários que voltavam de licenças médicas e aumento do valor das horas extras noturnas, realizadas para liquidar os estoques de café.
Pânico geral. O banco simplesmente era o responsável por toda a movimentação financeira do maior produto do País, o café. O secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, José Silva Gordo, é acionado. Ele desce a serra. Além de se reunir com os “bambambans” do setor, associação comercial, Bolsa do Café, etc, o secretário fala com os funcionários.
Os negócios não podiam parar. Tudo foi feito para que a paralisação terminasse o quanto antes. O que acabou acontecendo um dia depois de iniciado o movimento. E com vitória: todas as reivindicações dos funcionários do Banco do Estado de São Paulo foram atendidas.
Passados 71 anos desde a greve pioneira dos bancários de Santos, a categoria se vê também num outro momento pioneiro: os bancos federais — Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal — e Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) vão participar da mesma mesa de negociação salarial com os bancários. Explica-se: nos oito anos de governo FHC, os bancos federais não participavam das negociações unificadas.
MEMÓRIA
No início do século XX, em razão do porto, um grande número de trabalhadores estrangeiros se estabeleceu na cidade. Esses trabalhadores trouxeram as idéias anarquistas e libertárias da Europa, redendo um “título” honroso para Santos: pequena Barcelona, em referência à cidade da Espanha que era o centro dos anarquistas espanhóis.
Depois de pequena Barcelona, a cidade de Santos ficou conhecida como “Porto Vermelho” em razão do forte movimento sindical do porto. Ficou famoso, em 1946, o boicote promovido pelos estivadores aos navios de bandeira espanhola contra a ditadura de Franco. Para aumentar a fama de cidade “vermelha”, Santos
elegeu 14 vereadores comunistas, também na década de 40.
(Rosângela Gil, de Santos)