Por Sheila Jacob
Altair Guimarães e Jane Nascimento, ambos da Associação de Moradores da Vila Autódromo, se reuniram nessa semana com o secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar (PT/RJ). O objetivo do encontro foi apresentar o projeto das Olimpíadas aos moradores da comunidade e aos defensores públicos que vêm acompanhando o caso. Quem conduziu a apresentação foi Ruy Cezar Reis, secretário especial para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016.
Esse havia sido um dos desdobramentos previstos da reunião ocorrida com o prefeito Eduardo Paes (PMDB/RJ) no início do mês de março, mas só foi ocorrer no dia 30, quase um mês depois. Só a partir dessa etapa poderá ser construída uma proposta contrária, ou seja, um projeto que garanta a realização dos Jogos Olímpicos com a permanência da comunidade, já que, apesar das promessas de reassentamento para locais próximos, os moradores não querem deixar suas casas. Foi estabelecido um prazo de 45 dias para que a Defensoria Pública e uma equipe de arquitetos apresentem uma alternativa.
Como já é de conhecimento geral, o projeto para os Jogos Olímpicos prevê a saída da Vila Autódromo. A justificativa usada é por estar localizada em uma “área de segurança”. Mas, para Canagé Vilhena, um dos arquitetos envolvidos na elaboração da contra-proposta, essa justificativa é falsa: trata-se apenas de “higiene social”, já que a comunidade fica na Barra da Tijuca, área nobre do Rio de Janeiro. “Para mim está claro que essa é uma questão de especulação imobiliária, e não ‘segurança’, como eles estão justificando”, opinou. De acordo com ele, além de o isolamento da comunidade não garantir segurança alguma, há medidas eficazes que não estão sendo postas em prática.
Uma das principais razões para a saída da comunidade, de acordo com os secretários presentes, é o fato de esse projeto ter sido aprovado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Mas, como lembrou o defensor público Alexandre Mendes, o prefeito Eduardo Paes declarou recentemente que há possibilidade de alterações no projeto, como a revitalização da Zona Portuária, que não estava prevista inicialmente. Essa declaração foi feita durante a inauguração do seminário A Olimpíada e a Cidade: Conexão Rio-Barcelona, no dia 18 de março. “Por que não atender, de fato, a vontade dos moradores da Vila Autódromo, e sugerir a permanência da comunidade como uma dessas mudanças que serão negociadas?”, questionou Mendes.
O próprio prefeito havia reconhecido, na reunião de 3 de março, um grande erro na origem do projeto: o fato de, em momento algum, não ter sido consultada a população que será diretamente atingida pelo megaevento. De acordo com o defensor público, a exclusão da comunidade na decisão seria um motivo mais do que suficiente para propor ao COI alterações ao projeto inicial.