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Por Sérgio Domingues/pilulas-diarias.blogspot.com.br

Vito Giannotti gostava de contar uma historinha engraçada para demonstrar a importância da comunicação para a organização dos trabalhadores.

Nos anos 1980, na saída de uma reunião sindical, ele conversava com um operário iniciante na militância:

– Vito: E aí, rapaz, gostou da reunião?
– Gostei, sim. Só não entendo porque a gente não junta forças pra atacar logo o inimigo principal?
– Vito: Qual inimigo, os patrões, a Fiesp, o governo?
– Não. Essa tal de conjuntura!
– Vito: Como assim? Não tô entendendo?
– Ué, na reunião, o pessoal ficava falando “a conjuntura não ajuda”, “a conjuntura tá contra nós”, “a conjuntura é desfavorável”. Então, a gente tem que acabar com essa conjuntura, logo. Fazer picadinho desse satanás!

Aquela conversa mostrou a Vito que um dos maiores problemas para a organização dos trabalhadores não era só patrão, Fiesp, governo. Também era nossa incapacidade de nos comunicar com as “pessoas normais”, como ele dizia.

Sem isso, continuaremos a falar apenas por algumas dúzias de pessoas iniciadas. Afinal, para mudar, transformar, revolucionar a sociedade, é preciso falar para milhões de “pessoas normais”. Do contrário, não travamos a disputa de hegemonia para fazer a visão libertadora dos explorados prevalecer.

Esta era a grande luta de Vito Giannotti. Por isso, seus vários livros em linguagem simples, direta, cortante, sem perder a radicalidade. Daí, a publicação de “Manual de Linguagem Sindical”, “Dicionário de Politiquês”, “Muralhas da Linguagem”…

Desde aquela conversa, a obra de Vito vem nos ajudando muito a superar esse problema. Só o que não mudou tanto assim foi a conjuntura, que continua sendo uma coisa do satanás!

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