Em entrevista à Radioagência NP, o integrante da coordenação nacional da Organização Consulta Popular, Ricardo Gebrim, discute o cenário do segundo turno para a presidência. De acordo com ele, a campanha entra em uma fase crítica: as forças populares devem buscar unidade pela vitória de Dilma (PT) contra a vitória de José Serra (PSDB) e o retorno da direita ao poder. Gebrim também analisa a votação expressiva de Marina Silva (PV), que conquistou quase 20% dos votos válidos, e diz que houve avanço, ainda insuficiente, na configuração do Congresso Nacional.
Da Radioagência NP, Aline Scarso.
Radioagência NP: O que representa o resultado do 1º turno para as forças populares do Brasil?
Ricardo Gebrim: Em relação às eleições dos presidenciáveis, nós podemos afirmar que não interessou às forças populares a existência de um segundo turno. O melhor desfecho era que Dilma Rousseff fosse eleita no primeiro turno. O segundo turno abre condições e risco para que a direita avance na sua ação ofensiva, com as forças mais reacionárias do último período. Isso coloca [ao PT e aos movimentos sociais] uma campanha difícil como também irá possibilitar que muitas pressões conservadoras recaiam até mesmo sobre a candidatura Dilma. Então, nesse momento é fundamental que a gente consiga unificar o conjunto dos setores populares, que votaram em outros candidatos, como na Marina, para derrotar o Serra e garantir a vitória na Dilma.
RNP: Por que a vitória Dilma é considerada mais promissora para o avanço das forças populares que a vitória do Serra?
RG: Por vários motivos. O primeiro deles é que dá continuidade a um posicionamento geopolítico do Brasil, que não só vem apoiando iniciativas importantes no nosso continente, como possibilitou o apoio em várias situações fundamentais, como no episódio do golpe em Honduras, no apoio das iniciativas continentais que fortaleceram países como a Bolívia, a Venezuela e Equador. Mas não só no âmbito mundial. A candidatura da Dilma também representa esse leque de força, [que] nesse último período – ainda que não tenha sustentado o programa histórico das transformações – possibilitou que fosse barrado um conjunto de iniciativas ofensiva neoliberal que ficou marcada pelo governo de Fernando Henrique. [Ou seja] as ofensivas das privatizações, a ofensiva contra os direitos trabalhistas. Portanto, nós temos que fazer uma fortíssima campanha para impedir que a direita retome essa condição de força e consiga derrotar esse acúmulo que foi obtido nesses últimos anos.
RNP: Como a Consulta avalia a votação obtida pela Marina?
RG: A votação expressiva da Marina é algo que precisa ser melhor compreendida porque a candidatura dela tem vários temas contraditórios e antipopulares como no papel geopolítico do Brasil, a questão agrária e os direitos trabalhistas. É uma candidatura que se manteve bastante ambígua, para não dizer que em alguns momentos chegou a esboçar várias propostas conservadoras. Portanto, o voto acumulado pela Marina, embora tenha arrebanhado um conjunto de setores sensíveis ao discurso ambiental e a um processo de desenvolvimento que seja sustentável, também foi um voto que sinalizou um protesto e um descontentamento de uma parcela que se sente frustrada pelo governo Lula não ter avançado e implementado aquelas medidas históricas do programa democrático e popular do PT. O voto da Marina canaliza esse conjunto de eleitores, embora com um discurso bastante ambíguo e incerto.
RNP: E qual é a avaliação sobre a composição do Congresso? Nas eleições para o Senado, por exemplo, o PT passou de oito para 14 cadeiras. O DEM tinha 13 e agora tem seis e o PSDB, tinha 14 e agora 11.
RG: Isso sem dúvida é um avanço importante, ainda mais porque o Senado sempre foi o bastião do pólo conservador. Obter um avanço no Senado é um passo importante, mas ainda é um avanço insuficiente, pois ainda existe uma forte presença conservadora na Casa. No quadro geral é uma perspectiva promissora. Também me parece que na Câmara houve certo avanço dos partidos que tem um compromisso histórico das lutas populares.
RNP: E qual a expectativa para a campanha presidencial do 2º turno?
RG: Nós estamos ouvindo o conjunto da coordenação nacional e até o momento há uma forte unanimidade de que a gente tenha uma orientação clara e firme de todo esforço militante. Agora é hora de voltarmos à rua, voltarmos com a militância, retomarmos as atividades de campanha e, principalmente, de conseguirmos articular com aqueles setores e aqueles companheiros e companheiras que acabaram votando na Marina ou em outros partidos e propostas não vinculadas à candidatura Serra. Então é hora de tentar aglutinar esses setores, somar o máximo de energia, porque nós não podemos permitir a vitória do Serra. A vitória para o Serra é uma derrota para classe trabalhadora. Por isso que nesse momento temos que procurar esse eleitorado, conversar com ele e demonstrar o perigo de uma vitória da direita. E esse perigo real tem que ser enfrentado de uma forma bastante militante. A campanha nessa fase entra numa fase militante.