Do Boletim NPC n.63, março de 2005
Premiado com a melhor canção no Oscar 2005, o compositor uruguaio Jorge Drexler não pôde interpretar “Al otro lado del río”, apresentada originalmente no filme “Diários de motocicleta”, de Walter Salles. Sobre a interpretação de Antonio Banderas e Santana na cerimônia, Salles é categórico: “(…) não tem qualquer semelhança com a versão original que está no filme, tanto na forma quanto no conteúdo. Estava equivocada até no cenário e no figurino. Se nos convidam para essa festa, que nos aceitem como somos, e não como acham que devemos ser”. Leia a íntegra da nota:
“Não poderíamos estar mais felizes, pelo autor maravilhoso que Jorge Drexler é, pelo fato de que uma canção que traduz de forma tão sensível a essência do filme ter sido reconhecida, e, finalmente, pela maneira tão digna com que Drexler recebeu o prêmio. A letra linda que Jorge escreveu para a canção fala das eleiçoes éticas, morais, que devemos fazer na vida. Pois bem, tambem fiquei feliz pela forma solidária com que toda a equipe que fez o filme se comportou quando os produtores do show que transmitiram a cerimônia não permitiram que Jorge cantasse. Gael Garcia Bernal, que havia sido convidado a apresentar a canção na cerimônia, se recusou a fazê-lo para qualquer pessoa que não fosse Drexler.
A força de “Diários de Motocicleta” está no fato de que esse foi um filme feito de forma coletiva, em família. A alma do filme reside nesse todo onde as peças não são intercambiáveis. Fizemos esse filme com total liberdade, e não havia por que aceitar ou compactuar com qualquer tipo de imposição agora, depois de cinco anos detrabalho. Se aprendemos algo com aqueles dois jovens que elegeram uma margem do rio, é que é preciso lutar por aquilo em que a gente acredita. Era necessário manter a coerência e a integridade do trabalho realizado ao longo de cinco anos por uma equipe que veio de todas as partes da América Latina, e foi essa coerência que Drexler personificou no domingo à noite.
Quanto à versão da canção que se ouviu, não tem qualquer semelhança com a versão original que está no filme, tanto na forma quanto no conteúdo. Estava equivocada até no cenário e no figurino. Se nos convidam para essa festa, que nos aceitem como somos, e não como acham que devemos ser”.
Walter Salles, em nota à imprensa, 28 de fevereiro de 2005