[Por Jessica Santos] O programa Quintas Resistentes recebeu, no dia 30 de março, Junior Hekurari Yanomami, professor, liderança indígena e presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami. No momento, ele atua na comunidade Surucucu, em Roraima, acompanhando a construção do hospital de campanha, unidade de saúde que irá receber pacientes indígenas de várias regiões. “Somos divididos em Roraima e Amazonas, com uma população de 31.320 Yanomamis na terra indígenas. Existem também Yanomamis dentro da Venezuela, mas nós não temos contato, eles têm culturas e viveres diferentes”, explica.

A situação crítica de emergência sanitária do povo Yanomami foi noticiada pelo mundo e chamou atenção para a gravidade da tragédia. Junior conta que os inúmeros pedidos de ajuda não foram ouvidos pelo governo Bolsonaro, que também fez sucessivos cortes no orçamento relacionado a causa indígena. “O próprio governo brasileiro deixou a gente sofrer. Aquelas crianças e homens que mostramos para o mundo são brasileiros. Durante o governo Bolsonaro pedimos socorro para salvar o povo Yanomami e nos proteger, mas não fomos ouvidos. Bolsonaro não ouviu as denúncias e incentivou os invasores a entrar em nossas terras, além de reduzir recursos orçamentários da saúde dos Yanomamis”, afirma.

Segundo Junior, havia grande dificuldade em contactar o Ministério da Saúde, que não comprou medicamentos simples que poderiam evitar doenças, uma vez que, devido a atividade ilegal do garimpo, a água está suja e contaminada. “O povo Yanomami sofreu muito desde 2019 com a entrada dos garimpeiros. A terra indígena Yanomami foi ferida e rasgada. O povo Yanomami sofreu muito, mas mostramos para as autoridades, denunciamos. O Ministério Público Federal estava do nosso lado, mas também não foram ouvidos, infelizmente”, denuncia o entrevistado, afirmado a necessidade de responsabilização. “Não quiseram ajudar, então essas pessoas têm que ser responsabilizadas pela omissão de socorro e extinção do povo Yanomami, pela remoção do povo Yanomami que quase entrou em extinção”, conta.

Quanto ao garimpo ilegal, Junior destaca que a ampliação da prática combinada com a omissão e até incentivo do governo Bolsonaro está destruindo os povos indígenas e a própria floresta. “O que os garimpeiros fazem? Eles destroem rios, comunidades, famílias. Trazem doenças para a comunidade e traz morte para o povo Yanomami”, conta. Por fazer constantes denúncias e lutar para proteger o seu povo, Junior sofre ameaças. “Eu também fui muito ameaçado pelos garimpeiros, pelas autoridades, fui perseguido, mas sobrevivi e persisti para salvar o meu povo Yanomami, para representar e falar por eles”, afirma.

Atualmente, o Governo Lula decretou estado de emergência, reconhecendo a gravidade da situação de saúde do povo Yanomami. “O Ministério da Saúde com o SUS está trabalhando de domingo a domingo para salvar muitas crianças. Muitas foram salvas, mas muitas ainda estão querendo que o médico chegue em sua comunidade e ainda não receberam. Estamos falando de aproximadamente 180 a 190 comunidades”, conta. Também está em andamento a construção do hospital de campanha dentro da floresta, que segundo Junior, planeja atender de 150 a 200 pacientes por semana. “Não vamos mandar esses pacientes para Boa Vista porque demora muito, então a ideia é que aqui mesmo, na comunidade, na casa deles, possamos curar esses pacientes. Vamos curar a malária, a desnutrição, cuidar dentro da casa deles, afirma Junior, complementando: “A nossa missão hoje é salvar vidas”.