revolução russa

[Por Sheila Jacob para a agenda 2017 do NPC] Em 2017, celebramos o centenário da Revolução Russa. Esse acontecimento histórico, que marcou o início do século 20, muito tem a nos ensinar e inspirar, principalmente com relação às medidas implementadas para a libertação das mulheres e a igualdade de gênero.

Quanto ao protagonismo das mulheres naquele distante país, basta lembrarmos que, em 23 de fevereiro de 1917 (8 de março no calendário ocidental), tecelãs e costureiras de Petrogrado foram às ruas protestar. Elas exigiam pão e paz em um contexto de miséria e exploração que vitimava trabalhadores e trabalhadoras russos. Esse fato foi considerado o estopim da Revolução de Outubro daquele ano. Por esse motivo, o 8 de março tornou-se o Dia Internacional da Mulher.

Wendy Goldman, em seu livro Mulher, Estado e Revolução (Boitempo/ Iskra, 2014), nos conta que, pouco tempo depois da Revolução, o código da família foi alterado. A visão do novo documento estava baseada em novas relações sociais, sem moralismos. O objetivo era acabar com a opressão sobre as mulheres. Era “romper as algemas” daquelas que estavam condenadas ao espaço doméstico e a se calar enquanto os homens dirigiam as reuniões e os movimentos.

Com a Revolução Russa, portanto, as pautas feministas foram avançando. Foram aprovadas medidas como o direito das mulheres ao divórcio e ao trabalho; a legalização do aborto; a igualdade de salários de homens e mulheres; a licença-maternidade; a substituição do trabalho doméstico por lavanderias, creches e refeitórios públicos; e uma série de outros aspectos.

O papel do Estado, para que homens e mulheres tivessem as mesmas condições e as mesmas oportunidades, era evidente. Também estava claro que só o socialismo poderia resolver as contradições entre trabalho e família e a existência de múltiplas jornadas para mulheres. Lembremos, ainda, que a líder socialista feminista Alexandra Kollontai ocupou um lugar de destaque enquanto dirigente política, tendo sido eleita para o cargo de Comissária do Povo de Assistência Pública.

Essas foram apenas algumas mudanças, que, no entanto, viriam a se perder com o tempo, principalmente na década de 1930, após a ascensão de Stálin. Um exemplo: em 1936, o aborto voltou a ser proibido. Novos desafios se colocaram desde então não apenas às mulheres, mas à própria Revolução.

Ao olharmos para 1917, aprendemos que a construção de uma nova sociedade passa pelo estabelecimento de políticas de igualdade de gênero. Só será possível dizer que o socialismo triunfou e que novas relações humanas são possíveis quando homens e mulheres estiverem em pé de igualdade.