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[Pulsar Brasil] O uso político de emissoras de rádio no Brasil é quase tão antigo quanto o próprio rádio. Hoje, quase 100 anos depois da inauguração no país, ao menos 40 emissoras de rádio e TV ainda são controladas por senadores ou deputados federais. Mas se, no nível nacional, a grande presença de políticos entre os proprietários de meios de comunicação é ao menos denunciada, pelo fato de desrespeitar diretamente a Constituição, no nível municipal a prática, ainda mais evidente, se banalizou.

Nas últimas eleições municipais, no ano passado, exatos 216 proprietários de emissoras locais de rádio (FM) se candidataram a prefeito. Desses, 94 saíram vencedores nas urnas. Entre os eleitos, alguns são conhecidos como “coronéis” da mídia: ACM Neto, eleito em Salvador, na Bahia, e proprietário, entre outras, da Rádio 91 FM; Humberto Souto, deputado federal por sete mandatos, atual prefeito de Montes Claros, em Minas Gerais, e controlador da Rádio Educadora de Montes Claros; e Walter Caveanha, que ocupa pela quinta vez a Prefeitura de Mogi Guaçu, em São Paulo, e é sócio da Rádio e TV Vale do Mogi Guaçu.

A maior parte dos prefeitos radiodifusores eleitos em 2016, entretanto, é composta por novos investidores no setor, que encontraram na apropriação de licenças de radiodifusão comunitária um novo filão para construir seus palanques eletrônicos. Dos 94 prefeitos proprietários de rádios atualmente no cargo, 76 são membros da diretoria de alguma rádio comunitária.

Em tempos de ampliação do acesso à internet e de intenso uso das redes sociais como instrumentos de marketing político, chama a atenção a persistência da utilização do rádio. O maior perigo para a democracia é o fato de que a propriedade de emissoras locais de rádio parece ser um fator que amplia significativamente as chances dos seus proprietários serem eleitos nas eleições a prefeito.

A maior parte dos 94 prefeitos radiodifusores eleitos em 2016 atua em cidades pequenas, nas quais a única fonte de informação local disponível é justamente a rádio da qual são donos.

A pesquisa é de Cristiano Aguiar Lopes, jornalista e doutorando em Ciência Política pelo IESP/UERJ (Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro).