Por Reginaldo Moraes, abril de 2005
No dia da escolha do novo papa, a cobertura do Jornal Nacional apresentou uma pequena biografia de Ratzinger. Nasceu em pequena cidade da Baviera… Bom, chegou na adolescência: “Aos 12 anos entrou na Juventude Nazista”. Bom, como sabemos, aos 12 anos fazemos muita coisa de que depois nos arrependemos, nao é? Mas o JN achou melhor já ir preparando a “defesa” do papa e juntou uma coisa mais ou menos assim: “naquela época, todo mundo fazia isso”. Todo mundo? Pelo que sabemos, teve muito alemão que não fez isso e pagou o preço. E se “todo mundo”, quer dizer, muita gente, entrasse nessa onda, isto “justifica” a adesão de Ratzinger?
Hoje, “todo mundo” usa camisinha, toma pílula, casa e se divorcia… Ratzinger entrará nessa onda também? Logo em seguida, o JN menciona que aos 15 ou 16 anos ele se inscreveu no exército nazista e foi combater. Não se comenta quantos tiros deu e quantos “irmãos” matou. Apenas, mais uma vez, o JN diz que todo mundo fazia isso, que ele foi obrigado, etc. Imagino os apóstolos de cristo sendo obrigados a esfolar seus irmãos, seguindo as ordens dos romanos…
Daí, o JN pula para o ano seguinte: “voltou para sua aldeia, a segunda guerra estava no fim”. Voltou? Desertou? Escondeu-se? Voltou…. como se volta de um piquenique? Continua o JN: “lá, foi preso pelo exército americano, confundido com um soldado alemão?” Confundido? Bom, ele era, de fato, um soldado alemão… É provável, até, que ainda guardasse seu uniforme. Precisava toda essa encenação do JN? Claro que precisava, porque todo esse passado certamente seria lembrado nos próximos dias. Como seria lembrado o fato de que, nos últimos anos, ele praticamente liderou as campanhas de ultradireita do Vaticano. A imprensa francesa já o chamou de rottweiller e pastor-alemão…
Ratzinger inovou nas eleições de papa: fez sua campanha pela mídia, para atingir o colégio dos cardeais. Assim pode mover as manifestações — claramente estimuladas — de exaltação de JP II, com a proposta de atropelar os procedimentos normais e santificá-lo em tempo recorde. Com isso, um recado claro era dirigido ao colégio eleitoral: o novo papa teria que ser a sombra de JP II. Votaram na sombra, na sombra sombria.
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Reginaldo Moraes é professor de Ciências Políticas na UNICAMP (SP).