6 e Meia do NPC: trocando ideias sobre a Comunicação Sindical
O programa 6 e Meia do NPC e apresentado pela jornalista Claudia Santiago e tem o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo. Este programa foi ao ar no dia 15 de abril de 2021.
[Por Fabiana Batista*] “Temos comida para alimentar o país, mas falta mercado e programas de governo para agricultores familiares, que acabam jogando fora parte da sua produção”, afirma a jornalista e assessora de Comunicação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Verônica Tozzi, para quem a situação da fome no Brasil não é falta de alimentos, mas sim de políticas públicas voltadas à agricultura familiar.
A CONTAG foi fundada em 1963 e sua atuação começou com as discussões sobre as reformas de base, principalmente, a reforma agrária. Além de coordenar assentamentos em várias regiões do país, a organização atua politicamente pressionando o Senado e a Câmara dos Deputados a contemplarem os direitos dos trabalhadores rurais e pela reforma agrária.
Quanto à comunicação, tema central do programa Seis e Meia no NPC, a Confederação é, nacionalmente, referência e grande articuladora da rede de comunicações de sindicatos rurais e comunicadores populares. No programa, Verônica conversou sobre essa e outras experiências de comunicação da CONTAG e relembrou o 12º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, que reuniu três mil pessoas do campo em um espaço on-line.
As rádios comunitárias estão ultrapassadas?
Distante da cidade e quase sempre fora de área de cobertura da internet, o bom e velho rádio é o principal meio de comunicação que os trabalhadores rurais utilizam para se informar no campo. “Enquanto estão trabalhando na roça, o radinho está ligado”, lembra Verônica. Sem perder tempo, a CONTAG criou, há quase trinta anos, em parceria com a Oboré, empresa de comunicação a serviço das políticas públicas e sociais, o programa semanal Voz da Contag, que existe até hoje. Segundo a jornalista, essa é a experiência de rádio sindical mais antiga do país.
Outro meio de comunicação para os moradores do campo é o queridinho do NPC: o jornal impresso. Infelizmente, diante da reforma trabalhista que fez diminuir a receita dos sindicatos e a seu alto custo, a CONTAG precisou transformar seu jornal impresso, 4 mil exemplares distribuídos por todo país, em jornal digital: o Jornal da CONTAG está agora no formato on-line. Ademais a Confederação criou boletins on-line que têm distribuição semanal via redes sociais, e-mail e listas de transmissão, e que são utilizados nas assembleias e programas de rádio das organizações locais.
Para a formação política, são produzidos cartilhas, cartazes e panfletos. “As cartilhas estão aumentando, por exemplo, os conteúdos sobre políticas públicas e direitos sociais no campo; além disso, material sobre direitos da criança e do adolescente tem tido demanda dos sindicatos e federações”.
Verônica explica que quem quiser se informar sobre a temática da reforma agrária e lutas no campo deve acessar o portal de notícias, onde são divulgados diariamente matérias do tema. “Lá também temos um espaço com todos os programas de rádio e vídeos”. Nas redes sociais, a Confederação também está no Facebook, sua principal rede social, e Instagram, cujo perfil criado durante a pandemia tem ganhado a adesão dos trabalhadores rurais.
Em seu canal do YouTube, a TV CONTAG divulga seu programa De olho no Congresso, pautando o que foi discutido durante a semana no Congresso Nacional de interesse da população. Além disso, com a juventude rural à frente, também são realizadas lives transmitidas, ao vivo e simultaneamente, no Facebook, site e YouTube. O canal TV CONTAG também divulga centenas de vídeos sobre assuntos de interesses da agricultura familiar e da vida camponesa.
Comunicação na pandemia
Com o objetivo de incentivar os produtores rurais a permanecerem em casa durante a pandemia, a CONTAG criou a campanha “Fica na Roça”: são produzidos cards com fotos que eles mesmos enviam com registros do trabalho na roça. “Já produzimos mais de 200 cards, e, estimulados, cada dia mais as demandas aumentam, eles amam se ver nas redes sociais”, nos conta Verônica.
Ainda neste período de isolamento social, a organização tem sido protagonista nas inovações em comunicação. Um exemplo apontado por Verônica Tozzi foi a realização do 12º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais. Ela nos conta como foi: “Apesar da luta, a dificuldade de se comunicar virtualmente e a falta de acesso não nos fizeram desistir do encontro. Transmitimos as mesas em três salas diferentes e os debates ocorreram dentro delas como se fossem comissões temáticas. Nós respeitamos as trocas de conversa, de sorrisos, e evitamos o formato webinário, no qual as pessoas apenas escutam, para que todos fossem ouvidos. A estrutura foi gigantesca. Por exemplo, com medo da falta de energia ou internet, contratamos uma empresa e geradores de energia”, lembra.
“Para evitar um encontro maçante”, prossegue Verônica, “também tentamos reproduzir os momentos culturais e, entre uma intervenção e outra, reproduzimos materiais de vídeos, tocamos forró e recitamos poemas. O dia da votação nos surpreendeu, com a participação de três mil pessoas, contamos com 98% de votos para a escolha da nova diretoria. E a eleição só foi possível porque criamos um mecanismo de cédulas digitais e vídeos tutoriais. A felicidade, ao final, foi imensa ao receber vídeos dos trabalhadores votando. Saímos ainda mais fortalecidos dessa experiência”.
Violência no campo e a resistência dos trabalhadores rurais
A Marcha das Margaridas existe desde 2000 e acontece a cada quatro anos. Na necessidade de reafirmar suas bandeiras e com pouca participação sindical, as mulheres do campo, da floresta e das águas se organizaram entre si. O nome é uma homenagem à Margarida Maria Alves, presidenta de um sindicato na Paraíba, que foi assassinada na porta de casa. Em sua luta contra os usineiros, contra o trabalho escravo e pela reforma agrária, dá para perceber que a sindicalista era uma guerreira e, por isso, incomodava muito.
Nas ruas de Brasília, em 2019, a marcha foi histórica e pautou as mídias alternativas e tradicionais. “Felizmente, nossa avaliação é que não houve nenhuma notícia negativa”, relembra Verônica. Felizmente porque diante de tantos assassinatos e ameaças aos trabalhadores rurais é fundamental que cada vez mais a CONTAG e outras organizações do campo unitário rural — MST, MPA, ANA, Via Campesina, MAB, e as outras mais 10 organizações parceiras — consigam denunciar que os altos preços dos alimentos e o desabastecimento existem pela falta de democratização do acesso à terra.
Verônica reafirmou algo que sempre pautamos em nossos programas e, para encerrar, vale reproduzi-lo na íntegra: “Precisamos de redes de comunicadores para quebrar ideias erradas sobre a reforma agrária. Se as pessoas realmente entendessem o que é a reforma agrária, o país não estaria como está. Para isso, precisamos explorar também outras pautas que tenham um apelo popular. Por exemplo, a alimentação saudável está em alta hoje em dia e, ao usarmos novas estratégias e envolver outros atores, como os chefes de cozinha, temos tido bons resultados. Eles têm um papel fundamental quando falam bem da agricultura familiar e assim conseguiremos quebrar preconceitos e trazer a população para o nosso lado”.
- Fabiana Batista é jornalista
- Edição de texto: Moisés Ramalho, jornalista e doutor em Antropologia