[Via Outras Palavras. Texto original: “El objetivo es ‘piratear’ al individuo con una mezcla de guerra psicológica y de guerra de la información” | ctxt.es. Tradução: Rôney Rodrigues]
Ignacio Ramonet (Pontevedra, 1943) dirigiu a edição francesa do Le Monde Diplomatique e, desde esse ano, a edição espanhola. É também cofundador da organização não-governamental Media Watch Global (Observatório Internacional dos Meios de Comunicação), fundador e presidente honorário da ATTAC e um dos promotores do Fórum Social Mundial de Porto Alegre.
Em seu novo livro, A era do conspiracionismo. Trump, o culto à mentira e o ataque ao Capitólio, ele analisa o fenômeno da pós-verdade, das fake news e sua exploração pela ultradireita. Nesta entrevista vamos a fundo nisso, mas vamos além e dissecamos o papel das redes sociais e da comunicação na guerra da Ucrânia.
O ataque ao Capitólio, em Washington, em 6 de janeiro de 2021, serve de ponto de partida para produzir um livro que aborda o que você denominou de era da conspiração . A realidade é que, tanto nos Estados Unidos quanto no mundo ocidental, essa internet e essas redes sociais que pareciam a panaceia para a democratização da informação foram colonizadas por embustes e fake news da extrema direita. A primeira pergunta que surge é: como chegamos a isso?
Hoje, o principal meio de disseminação de informação e conhecimento são as redes. As redes sociais são o meio dominante, tal como o foram, noutros tempos, a televisão, o rádio ou a imprensa. As redes são a expressão de uma verdadeira democratização da comunicação que a revolução da Internet permitiu. Hoje, qualquer pessoa em qualquer país, por um custo mínimo, com um smartphone tem uma capacidade de comunicação semelhante à que a CNN (o primeiro canal de televisão planetário e permanente de notícias) tinha, por exemplo, 35 anos atrás. É uma revolução no campo da comunicação como nunca houve, em termos de capacidade individual de difundir uma mensagem em âmbito planetário.
De certa forma, esse fenômeno já nos permitiu alcançar, em termos de comunicação, um “mundo melhor”, como diria Huxley, algo inimaginável há apenas 20 anos. Mas esse mundo melhor não é um mundo perfeito, porque o domínio selvagem das redes favoreceu o surgimento de um feixe de novos problemas específicos que nem imaginávamos. Em particular, a proliferação – em escala astronômica – de mentiras, boatos, falsidades, manipulações, pós-verdades, fake news. O que era uma promessa de liberdade se converteu em pesadelo. A maioria dos cidadãos continua a confiar nos motores de busca e nas redes sociais como principais fontes de informação. Mas essas plataformas agora estão enfraquecendo as democracias aos trancos e barrancos porque, na realidade, elas difundem massivamente teorias da conspiração, falsidades, discurso de ódio e mensagens extremistas. E a Inteligência Artificial vai intensificar tudo isso muito mais.
Foto: Diagonal