Declarado amante da comunicação sindical, ele trabalha na área de comunicação da CUT do Espírito Santo. São 66 sindicatos filiados à central no estado, representando mais de 150 mil trabalhadores sindicalizados e mais de 380 mil na base. São trabalhadores e trabalhadoras de várias categorias profissionais, de professores universitários a empregados da construção civil. Sem dúvida, um desafio e tanto para quem quer fazer comunicação para disputar a hegemonia. Ele é o jornalista Edilson Lenk. Equipe? Ele, apenas. Projetos? Muitos. Problemas para implantá-los? Falta de recurso. Edilson, durante a “falta de tempo” crônica, nos concedeu essa entrevista para a seção Radiografia Sindical, do Boletim NPC. Leia entrevista de Rosângela Gil, realizada em agosto de 2005.
 

Boletim NPC – Qual o número de trabalhadores, e categorias, representados pela CUT-ES?

Edilson Lenk – 66 entidades filiadas; com 150.327 trabalhadores filiados a seus sindicatos e 384.622 na base.

Boletim NPC – Qual o perfil desses trabalhadores?

Edilson Lenk – São vários o perfis. A CUT representa de professores universitários a trabalhadores da construção civil, de industriários a trabalhadores rurais. Traçar um perfil que defina esse universo de trabalhadores torna-se um pouco difícil.

Boletim NPC – Quais as principais lutas das categorias profissionais representadas pela CUT-ES?

Edilson Lenk – A principal luta encontra-se na valorização do trabalho, mesmo. Os últimos anos impuseram perdas e dureza por parte dos patrões nas negociações. Em nome da manutenção do emprego e devido à recessão, várias categorias aceitaram não ter reajustes, ou reajuste apenas com o índice da inflação. Mesmo com a retomada da economia, os patrões insistem em não conceder ganhos reais. Essa situação gera insatisfação em determinadas categorias, quando outras conseguem ganhos. 

No entanto, há belas lutas em andamento. Uma luta conjunta do movimento sindical capixaba, hoje, é em solidariedade aos povos indígenas que fizeram a autodemarcação de suas terras no norte do Estado. Esse povos lutam contra uma multinacional da celulose (Aracruz Celulose) que os expulsou de sua terra, que agora eles tomaram de volta.

Boletim NPC – Quais os instrumentos de comunicação utilizados pela CUT-ES? São instrumentos que chegam à base ou apenas para as direções sindicais?

Edilson Lenk – Temos um boletim on line que se pretende “diário”, mesmo com todas as limitações que temos. Esse boletim tem um índice de reprodução incrível. Às vezes converso com pessoas na rua que nunca imaginei que leriam e me falam de alguma matéria, sugerem pauta. É gratificante. Portanto, ele chega a muito mais pessoas que direções sindicais. Também trabalhamos boletins específicos, distribuídos à população em ocasiões especiais, como datas de nosso calendário de lutas (1º de maio, consciência negra, 8 de março, Grito dos Excluídos, entre outras). Trabalhamos também uma “carta semanal”, sempre com o máximo de uma lauda, abordando temas da conjuntura e outros relacionados ao mundo do trabalho.

Boletim NPC – Qual a equipe de comunicação da CUT-ES?

Edilson Lenk – Eu e eu (risos). A Secretária de Comunicação abandonou a pasta. Trabalho em sintonia com o presidente da Central, embora tenha autonomia para comandar a comunicação da CUT/ES. Essa autonomia, é claro, passa pela percepção que tenho que ter sobre o pensamento e o grau de “liberdade editorial” que essas pessoas me dão.

Boletim NPC – A CUT-ES tem jornal impresso? Desde quando? Qual o nome? Periodicidade? Tiragem? E como é definida a pauta?

Edilson Lenk – Olha, temos um projeto bonito de jornal que deveria ser mensal. Por motivos financeiros (e também por editarmos o boletim eletrônico) esse projeto foi substituído pela edição de boletins temáticos, em datas específicas. Porém essas publicações são sempre aguardadas (por escolas, faculdades, movimentos populares, etc.). Geralmente nossa tiragem para cada edição é na faixa de 10 mil exemplares. Nossas pautas são definidas de acordo com o tema em questão. Geralmente eu proponho a pauta e  a direção a aprecia.

Boletim NPC – Como a CUT-ES tem utilizado a ferramenta internet na comunicação?

Edilson Lenk – Como já te falei, através do boletim on line. Porém, durante todo o dia, notas e avisos são enviados eletronicamente. Em nossa última plenária, falamos muito sobre o fato de dirigentes (ou suas secretárias) não abrirem e-mail’s. Hoje a receptividade está bem melhor. A internet, para dizer a verdade, tem sido a principal ferramenta em nossa comunicação hoje na CUT/ES.

Boletim NPC – Vocês estão com projetos para ampliar e melhorar a comunicação cutista no Estado?

E

dilson Lenk – Sempre há projetos. Há a intenção de se realizar um seminário estadual de comunicação sindical, a ser realizado ainda. O presidente da Central também me solicitou orçamento para a veiculação de um informativo diário em rádio. O problema, no entanto, esbarra na contratação de pessoal e nos gastos. Quando se fala em ampliar a comunicação, não se fala em contratações, só em aumento de trabalho, o que inviabiliza muitos projetos. A intenção é estabelecer a necessidade de se fazer essa comunicação e de se assumir esses projetos como política da central.

Boletim NPC – Como a CUT-ES vê o papel da Comunicação Sindical?

Edilson Lenk – A CUT/ES conta com um amante da comunicação popular e sindical em seu quadro de funcionários. Falo de mim mesmo. Parte da direção se dedica, porém, com a diretoria esvaziada, falta acompanhamento. Participamos do Enacon e viemos com todo gás. Porém, a gente esbarra em dificuldades, o dinheiro como a principal (sempre ele!). Quando reclamei da impossibilidade de mandar o diário todos os dias, um dos depoimentos que recebi foi: “cara, mas isso é a melhor coisa que está acontecendo na CUT/ES”. Portanto, embora falte uma definição de política clara para a comunicação, há a importância para seu papel. Também busco estar junto de pessoas que atuam com rádios comunitárias e movimentos populares de forma geral.

Boletim NPC – Na sua opinião, quais os acertos e o que precisa ser mudado nessa área da CUT?

Edilson Lenk – Cara colega, acho que nas respostas acima essa indagação é também respondida. Entendo que a CUT/ES necessita de uma assessoria capaz de trabalhar sua comunicação como um instrumento de disputa na sociedade (lembrando meu querido Vito Giannotti). Para isso, é necessário basicamente investimento em pessoal, equipamento e em outras ferramentas. O caso do programa de rádio é um desses projetos que aparecem e que muitas vezes não tomam o rumo desejado. Acredito que com a minha experiência, a CUT/ES poderia desenvolver muito mais sua comunicação. No entanto, só isso não basta. É preciso que sejam dadas as condições necessárias para que o potencial existente hoje seja realmente utilizado. Temos experiências lindas no movimento sindical que não são divulgadas da forma como deveriam. Exemplos, pauta, não nos faltam. Só falta mesmo investir com garra e com interesse em fazer uma comunicação bonita, alternativa por natureza, pautada pelas lutas dos trabalhadores, não reprodutora do que a grande imprensa quer pautar como assuntos que devemos estar discutindo. Nosso universo é muito mais interessante, muito menos superficial e muito mais promissor. Vale a pena continuar lutando por essa comunicação que queremos, sabemos e um dia, quem sabe, poderemos fazer.
 

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A autora da entrevista, Rosângela Gil, é jornalista.