Alguns jornalistas são movidos por um sentimento de total repúdio ao papel cumprido pelos meios de comunicação no Brasil: o papel claro, e só falta ser declarado, de servir aos patrões e ao sistema. O papel de defesa de seus interesses de classe. Entre estes jornalistas, eu me incluo. Talvez por isso tenha ficado em estado de alerta desde que soube que haveria segundo turno nas eleições presidenciais. Tenho me  perguntado.  Quem são os jornalistas que, hoje, estão ocupando cargos de chefia nas redações? A quem e a que interesses servem ou serviram num passado recente? Sim, porque deles espera-se que venha o sopro de honestidade com a profissão.  Seus patrões estão pagando ao governo a fatura pela Medida Provisória que regulamentou a entrada do capital estrangeiro na mídia. (Ver matéria acima). Creio que responder a estas perguntas será de grande valia para entendermos o que será escrito em colunas e editorias nesta semana que entrar. 
A forma como Dora Krammer em sua coluna no JB do dia 17 comparou  a declaração de Regina Duarte no programa de Serra e a reação de Sandra de Sá, me assustou. Jornalista experiente que é, Dora sabe muito bem que as declarações das duas artistas não tiveram o mesmo sentido. Sabe que uma coisa é ter medo do desemprego e outra, daqueles que comem criancinhas. E ela fingiu não ter entendido mesmo sabendo que são dois medos totalmente diferentes.
Este é só um pequeno exemplo do que está acontecendo e vai continuar acontecer até o dia 27 de outubro nas páginas de jornais, programas de rádio e TV e pela internet. O programador visual paulista, Edson Dias Neves, assistiu ao capítulo da novela Esperança, na rede Globo, no sábado, dia 5, véspera do primeiro turno. Segue o relato do Edson: ” Uma operária, a Nina, que antes liderava o movimento das trabalhadoras de uma fábrica, assume um posto de gerência e enfrenta uma greve das suas companheiras. Não sabe o que fazer com o movimento. Em conseqüência, a fábrica quebra”. Será que esta novela colocou este episódio por puro acaso? Será que o seu autor e as autoridades da Rede Globo que determinam os acontecimentos de toda novela, não queriam falar de um tal de Lula? 
Contei este fato para alguns amigos. Um deles, o jornalista Marcos Dantas, respondeu indignado. “Existem, no Brasil, diversas fábricas auto-gestionárias. O controle delas foi assumido pelos seus trabalhadores, exatamente para evitar que fossem fechadas pelos patrões. Várias delas estão funcionando muito bem. Uma delas fica em Nova Friburgo, Estado do Rio (Haga). Outras ficam no Rio Grande do Sul, São Paulo etc.”
Ainda segundo meu informante, o autor do drama, Benedito Rui Barbosa, renegado que foi membro do PCB está isolado em uma fazenda escrevendo os capítulos diariamente. Edson suspeita que Benedito esteja escrevendo a trama do seu Brasil imaginário de acordo com o desenrolar dos fatos no Brasil do Real.  É bom não esquecer que este mesmo senhor escreveu a novela Rei do Gado, na qual um fazendeiro bonzinho se casava com uma sem-terra que trocava a bandeira vermelha pela verde. E o Jornal do Brasil, na época deu uma ingênua noticiazinha que o então Ministro da Reforma Agrária, assistia toda noite a este libelo e decidia com Rui o que colocar no ar no capítulo seguinte.
No sábado, dia 19, por volta das 19h, cheguei na praça Saenz Pena, onde moro, na zona norte do Rio. Vinda de um dia inteiro de aula de história do Brasil na UFF. Como sempre faço comprei um café  em copo descartável e caminhei até a banca de jornal para ver as manchetes do jornal de domingo. Deparei-me com a capa de Veja. Fiquei indignada, comecei a ligar para as pessoas, jornalistas e afins. Tive um ataque de nojo da imprensa brasileira e de alguns de seus profissionais.
  

Claudia Santiago é jornalista, coordenadora do NPC e da secretaria de Comunicação da CUT/RJ